segunda-feira, 4 de março de 2019

Nas origens de Fontão



Nas origens de Fontão
Desconhecem-se as origens de Fontão. Terra e gentes de caraterísticas acentuadamente rústicas, não teve “certidão” de nascimento. Ou, se a teve, perdeu-se com o andar dos tempos. Mas, a Arqueologia pode preencher esta lacuna.
Penso que o berço da “terra” se poderá encontrar no pequeno “Outeiro” que é agora o Lugar dos Remédios mas ainda ninguém o confirmou…
Os dados arqueológicos dizem-nos que por aqui se afadigaram muito os Romanos, desde pelo menos cem anos antes de Cristo. De fato, estes deixaram-nos pelo menos três pontes, cujas técnicas os estudiosos concordam, sem dúvida, atribuir-lhes. São elas: a Ponte do Arquinho, sobre o Rio Fontão, na veiga das Patas; a Ponte Nova, sobre o Rego da Vala, na Veiga da Anta; e, na Veiga de Cima, a Ponte sobre o Rio Estorãos que dá passagem, de Fontão para Bertiandos. Todas estas pontes seguem, num troço de uma via secundária Romana que vinha do sítio do Barco do Porto, em Serreleis, e por aqui passava em direção a Ponte de Lima. Era o antigo caminho medieval, que serviu a freguesia desde o tempo dos Romanos, senão antes, e o único até há bem pouco tempo.
A ponte do Arquinho, ou das Patas, liga Lanheses a Fontão. Penso que tem três arcos e uma calçada de grandes lages. A partir desta ponte a Via Romana sofre uma bifurcação em dois braços: um que se dirige para a Serra e segue pela antiga estrada de Valença para a ponte, também Romana, de Estorãos; outro braço que bordeja as Veigas do Rio Lima e pelas “Regadas” segue pela Arca, Souto, Linhares para a Ponte Nova, na Anta e dali para a Veiga de Cima, para entrar em Bertiandos, na Ponte sobre o Rio Estorãos. Esta é a segunda ponte.
Estas duas pontes são as mais antigas, talvez uns trezentos anos mais velhas que a Ponte Nova. Daí o nome desta.
Estes dois braços de caminho justificam-se, talvez, pelas dificuldades que haveria no inverno de vencer o obstáculo da Lagoa de Bertiandos que se atravessava pela frente. A Lagoa deve ter sido, nos tempos de construção destas pontes, muito maior, mais extensa e difícil de vencer. Devia prolongar-se por aquilo que em Fontão chamam as Regadas e que se prolongam por toda a extensão das Veigas do Rio Lima, entre estas e a freguesia.
Estas pontes e os respectivos caminhos que servem foram edificados e abertos no tempo do Imperador Cláudio, como obras de apoio ao seu empreendimento de conquista da Inglaterra.
Por toda a Galiza foram construídas bases de apoio às Legiões que operavam na ilha Britânica.
A Ponte Nova é muito mais recente e moderna. Tenho para mim que foi obra dos tempos do Imperador Teodósio ou de seu pai, governador da parte ocidental do império e que pode ter sido o dono destas terras. Ele, ou a sua família ou a família da sua mulher. Provavelmente para obtenção de novas áreas de pastagens, enxugando os terrenos pantanosos pelos quais a lagoa se estendia. Trata-se pois, de um empreendimento destinado a incrementar as actividades pecuárias.
O projecto era constituído pela abertura de um canal entre a Lagoa e o Rio Lima para escoar as águas da mesma e drenar os terrenos circundantes, enxugando-os.
Como esse canal ou vala atravessava uma via principal, muito importante para as populações locais, foi necessário incluir nas obras uma ponte, cujo nome não se sabe, mas que os naturais chamavam, muito simplesmente, Ponte Nova. Certamente por relação à ponte mais antiga sobre o Rio Estorãos, da qual fica muito perto.
Estas obras exigiram um esforço tão colossal em gastos e mão-de-obra que, talvez só a família Imperial estivesse em condições de executar.
Esta Vala e esta Ponte constituíram uma obra verdadeiramente espantosa, mudaram a fisionomia destes sítios. Aumentou e melhorou as pastagens e as possibilidades pecuárias desta terra, até aos dias de hoje. Melhorou as condições sanitárias da região e os terrenos de cultura. Dotou a freguesia de mais um rio: o Rego da Vala.
A maior parte dos terrenos, antes cobertos pela Lagoa, tornaram-se verdes pastagens, que ainda hoje permitem uma rica economia pecuária.
Anselmo Vieira

(Arqueólogo)

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