TOPÓNIMOS
Foi
o meu Pai que me meteu na cabeça o bichinho da curiosidade, quando me contou
que na foz do rio do Talho, existia um tear de ouro enterrado na areia. Isto
nunca mais me saiu da ideia.
Aprendi
que uma lenda não era uma verdade. Mas, também aprendi que uma lenda, esconde
uma verdade esquecida.
Por
isso, tentei desvendar a verdade que esta lenda encerra.
Chegaram-me
às mãos muitos papéis com histórias de personagens, capelas e figurões importantes,
mas que não encaixam com o tema que me preocupava.
Virei-me
para a toponímia dos Lugares. Verifiquei que a Veiga que estava mesmo em frente
do possível tear se chamava: Veiga do Valo. Ora valo, é um fundeadouro onde
ficam ancorados os barcos. Logo, o fundeadouro ou ancoradouro, onde se encontra
o tear, dá nome à Veiga, o que indica que é mais importante que a mesma, já que
é lugar de referência.
Logo
a seguir, para montante, segue-se a Veiga do Talho. Talho pode ter muitos
significados, mas, o mais importante é o que se torna referente. Não é o talho
da Veiga, mas a Veiga do Talho. E o rio do Talho prolonga-se até um ponto em
que deixa de chamar-se do Talho e passa a chamar-se para montante, rio Velho.
Certamente para designar maior antiguidade. Tudo isto parece indicar que no
rio, anteriormente conhecido, se localizou um talho tão importante que
influenciou todo o posterior historial do rio, até lhe modificar a toponímia. E
o local do tal Talho, bem pode ser um sítio onde hoje se localiza uma “Eira”
que é anacrónica pela sua localização e por ser a maior de Portugal. Para
montante do rio fica o Toural e a seguir as Torres e o Ameal.
A
partir de um certo tempo, o Rio deixa de chamar-se do Talho e passa a
chamar-se: Rio Podre. Porquê?
Às
pastagens do Ameal, o Toural, o Talho, o tear do Valo, tudo nos leva a pensar
tratar-se de negócios da criação de gado bovino e suas carnes e peles. O rio
Podre do Talho para a foz insinua a lavagem das carcaças, dos desperdícios
deitados para o rio, e da lavagem e aproveitamento das vísceras. Pensamos
ainda, na indústria da tripa, a dobrada, que deu origem ao prato gastronómico:
Tripas à moda do Porto.
Neste
contexto a palavra Toural ganha relevo. Nada de figurões, mas gado. A economia
da carne e do gado bovino, tão abundante nestas regiões, e que tanto atraiu a
atenção de povos antigos como os Gregos, que aqui puseram o décimo trabalho de Hércules,
roubando, na Corunha, os bois de Gerião.
É
nesta linha de economia que se encaixa a vivência esquecida e arrumada, no inconsciente
da alma Fontanense.
Houve,
pois, um tempo em que em FONTÃO se desenvolveu uma florescente criação de gado
bovino e um rico comércio de carnes e curtumes. Este comércio formatou a alma
Fontanense. Depois tudo se apagou e desapareceu. Mas, quando e porquê?
É
o que vamos averiguar.
Como
surgiu esta atividade? Como se desenvolveu? Quais os seus períodos? Qual o seu
esplendor? Porque desapareceu? Quando?
Porquê,
sendo Fontão, uma pequena freguesia e pobre, pagava ao fisco o dobro das
freguesias vizinhas?
Porquê
sendo Fontão uma freguesia de criadores de criadores gado e não agrícola, tem a
maior eira de Portugal?
4 de maio, de 20l3
Anselmo C. Vieira
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