quinta-feira, 28 de março de 2019

TOPÓNIMOS



TOPÓNIMOS

Foi o meu Pai que me meteu na cabeça o bichinho da curiosidade, quando me contou que na foz do rio do Talho, existia um tear de ouro enterrado na areia. Isto nunca mais me saiu da ideia.
Aprendi que uma lenda não era uma verdade. Mas, também aprendi que uma lenda, esconde uma verdade esquecida.
Por isso, tentei desvendar a verdade que esta lenda encerra.
Chegaram-me às mãos muitos papéis com histórias de personagens, capelas e figurões importantes, mas que não encaixam com o tema que me preocupava.
Virei-me para a toponímia dos Lugares. Verifiquei que a Veiga que estava mesmo em frente do possível tear se chamava: Veiga do Valo. Ora valo, é um fundeadouro onde ficam ancorados os barcos. Logo, o fundeadouro ou ancoradouro, onde se encontra o tear, dá nome à Veiga, o que indica que é mais importante que a mesma, já que é lugar de referência.
Logo a seguir, para montante, segue-se a Veiga do Talho. Talho pode ter muitos significados, mas, o mais importante é o que se torna referente. Não é o talho da Veiga, mas a Veiga do Talho. E o rio do Talho prolonga-se até um ponto em que deixa de chamar-se do Talho e passa a chamar-se para montante, rio Velho. Certamente para designar maior antiguidade. Tudo isto parece indicar que no rio, anteriormente conhecido, se localizou um talho tão importante que influenciou todo o posterior historial do rio, até lhe modificar a toponímia. E o local do tal Talho, bem pode ser um sítio onde hoje se localiza uma “Eira” que é anacrónica pela sua localização e por ser a maior de Portugal. Para montante do rio fica o Toural e a seguir as Torres e o Ameal.
A partir de um certo tempo, o Rio deixa de chamar-se do Talho e passa a chamar-se: Rio Podre. Porquê?
Às pastagens do Ameal, o Toural, o Talho, o tear do Valo, tudo nos leva a pensar tratar-se de negócios da criação de gado bovino e suas carnes e peles. O rio Podre do Talho para a foz insinua a lavagem das carcaças, dos desperdícios deitados para o rio, e da lavagem e aproveitamento das vísceras. Pensamos ainda, na indústria da tripa, a dobrada, que deu origem ao prato gastronómico: Tripas à moda do Porto.
Neste contexto a palavra Toural ganha relevo. Nada de figurões, mas gado. A economia da carne e do gado bovino, tão abundante nestas regiões, e que tanto atraiu a atenção de povos antigos como os Gregos, que aqui puseram o décimo trabalho de Hércules, roubando, na Corunha, os bois de Gerião.
É nesta linha de economia que se encaixa a vivência esquecida e arrumada, no inconsciente da alma Fontanense.
Houve, pois, um tempo em que em FONTÃO se desenvolveu uma florescente criação de gado bovino e um rico comércio de carnes e curtumes. Este comércio formatou a alma Fontanense. Depois tudo se apagou e desapareceu. Mas, quando e porquê?
É o que vamos averiguar.
Como surgiu esta atividade? Como se desenvolveu? Quais os seus períodos? Qual o seu esplendor? Porque desapareceu? Quando?
Porquê, sendo Fontão, uma pequena freguesia e pobre, pagava ao fisco o dobro das freguesias vizinhas?
Porquê sendo Fontão uma freguesia de criadores de criadores gado e não agrícola, tem a maior eira de Portugal?
4 de maio, de 20l3
Anselmo C. Vieira

Sem comentários:

Enviar um comentário