quinta-feira, 14 de março de 2019

Machado Paleolítico em seixo talhado, na Praia Norte de Viana do Castelo

Machado Paleolítico em seixo talhado, na Praia Norte de Viana do Castelo






Este seixo tem de comprimento 11 cm.
De largura tem 9cm.
De espessura 4cm.
De peso 450 gramas.
Tem a forma de martelo ou de machado.
Tem uma zona de pescoço trabalhado com a técnica de lascamento.
Tem um rebordo a toda a volta.
Tem um gume e uma linha de corte numa das bases.
Na outra base mantém a superfície primitiva, configurando forma de martelo.
Trata-se de um seixo rodado e que foi afeiçoado de forma a obter um instrumento de corte e de percussão.

Achado de superfície, na escombreira de seixos entre os afloramentos rochosos e a linha limite da plataforma marítima da dita praia.
Pesquisando entre os seixos, deteve-se o meu olhar num godo, estranho pelas suas linhas irregulares, cujas formas excitaram a minha curiosidade.
É um seixo talhado em forma de biface pela técnica do lascamento.
Quanto mais o observei, mais me convenci tratar-se de um instrumento pré-histórico da época do Paleolítico Superior, a anunciar já uma época de transição.
O seu material é de quartzito. Tem a forma de um machado. Denota muito uso e desgaste e, a patine, grande antiguidade.
O corte ou fio em forma de biface, bastante polido pelo uso, denota princípio de fissuras, talvez resultado do impacto dos golpes, quando foi utilizado.
À primeira impressão pensei tratar-se de um artefacto de um qualquer mariscador da cultura Asturiense, presente nas atuais praias de entre Minho e Lima.
Observando melhor achei o utensílio muito complexo, para uso tão simples. Além disso, pareceu-me duvidoso que a orla do mar chegasse no tempo do mesmo ao sítio onde ele foi encontrado agora, à Praia Norte de Viana do Castelo. Nesse tempo o mar devia estar muito distante da orla actual.
De fato, o nosso objecto tem a forma de um machado, com um alongado fio de corte.
Ocupa esse fio, em dupla face, a parte maior do artefacto. Segue-se-lhe um rebordo bastante tosco e irregular que o rodeia a toda a volta. A seguir outra superfície em forma de pescoço, talhado em pequenas lascas, bastante polidas que parece ter sido zona de agarramento, ou para encabamento de bastão de madeira, que o tornaria num eficaz instrumento de corte, ou numa mortífera arma de guerra, na luta corpo a corpo.
O nosso instrumento remata num pequeno cabeço em forma de martelo, única parte do seixo que se mantém na sua forma original de seixo, sem lascamento. Seria muito eficaz e contundente nas pancadas por ele desferidas.
Toda esta evidente complexidade sugeriu-me tratar-se de um machado de guerra, projectado e realizado por um ser muito inteligente e que o programou para múltiplas e complexas finalidades.
Demasiado complexo para ser um simples instrumento de extracção de mariscos, concluí tratar-se de um utensílio com mais de vinte mil anos, antes da desglaciação que, encontrando-se embora na orla da praia, da mesma estaria muito distante na época em que foi fabricado.
Entretanto deu-se o degelo, o nível das águas do mar foi subindo até ao nível actual em que o fui encontrar. As ondas batendo na orla marítima continental arrancaram-no à luz do dia e criaram um contexto diferente, mas que deixam adivinhar um continente submerso e uma civilização destruída, talvez relacionada com o que agora chamamos de Cultura Asturiense e que os antigos lembram na lenda da Atlântida, que tanto impressionou os escritores antigos como Platão e os Egípcios, seus contemporâneos.


Anselmo Vieira

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