Machado Paleolítico em seixo talhado, na Praia Norte de Viana do Castelo
Este
seixo tem de comprimento 11 cm.
De
largura tem 9cm.
De
espessura 4cm.
De
peso 450 gramas.
Tem
a forma de martelo ou de machado.
Tem
uma zona de pescoço trabalhado com a técnica de lascamento.
Tem
um rebordo a toda a volta.
Tem
um gume e uma linha de corte numa das bases.
Na
outra base mantém a superfície primitiva, configurando forma de martelo.
Trata-se
de um seixo rodado e que foi afeiçoado de forma a obter um instrumento de corte
e de percussão.
Achado
de superfície, na escombreira de seixos entre os afloramentos rochosos e a linha
limite da plataforma marítima da dita praia.
Pesquisando
entre os seixos, deteve-se o meu olhar num godo, estranho pelas suas linhas
irregulares, cujas formas excitaram a minha curiosidade.
É
um seixo talhado em forma de biface pela técnica do lascamento.
Quanto
mais o observei, mais me convenci tratar-se de um instrumento pré-histórico da
época do Paleolítico Superior, a anunciar já uma época de transição.
O
seu material é de quartzito. Tem a forma de um machado. Denota muito uso e desgaste
e, a patine, grande antiguidade.
O
corte ou fio em forma de biface, bastante polido pelo uso, denota princípio de fissuras,
talvez resultado do impacto dos golpes, quando foi utilizado.
À
primeira impressão pensei tratar-se de um artefacto de um qualquer mariscador
da cultura Asturiense, presente nas atuais praias de entre Minho e Lima.
Observando
melhor achei o utensílio muito complexo, para uso tão simples. Além disso,
pareceu-me duvidoso que a orla do mar chegasse no tempo do mesmo ao sítio onde
ele foi encontrado agora, à Praia Norte de Viana do Castelo. Nesse tempo o mar
devia estar muito distante da orla actual.
De
fato, o nosso objecto tem a forma de um machado, com um alongado fio de corte.
Ocupa
esse fio, em dupla face, a parte maior do artefacto. Segue-se-lhe um rebordo
bastante tosco e irregular que o rodeia a toda a volta. A seguir outra
superfície em forma de pescoço, talhado em pequenas lascas, bastante polidas
que parece ter sido zona de agarramento, ou para encabamento de bastão de
madeira, que o tornaria num eficaz instrumento de corte, ou numa mortífera arma
de guerra, na luta corpo a corpo.
O
nosso instrumento remata num pequeno cabeço em forma de martelo, única parte do
seixo que se mantém na sua forma original de seixo, sem lascamento. Seria muito
eficaz e contundente nas pancadas por ele desferidas.
Toda
esta evidente complexidade sugeriu-me tratar-se de um machado de guerra, projectado
e realizado por um ser muito inteligente e que o programou para múltiplas e complexas
finalidades.
Demasiado
complexo para ser um simples instrumento de extracção de mariscos, concluí
tratar-se de um utensílio com mais de vinte mil anos, antes da desglaciação
que, encontrando-se embora na orla da praia, da mesma estaria muito distante na
época em que foi fabricado.
Entretanto
deu-se o degelo, o nível das águas do mar foi subindo até ao nível actual em
que o fui encontrar. As ondas batendo na orla marítima continental
arrancaram-no à luz do dia e criaram um contexto diferente, mas que deixam
adivinhar um continente submerso e uma civilização destruída, talvez
relacionada com o que agora chamamos de Cultura Asturiense e que os antigos
lembram na lenda da Atlântida, que tanto impressionou os escritores antigos
como Platão e os Egípcios, seus contemporâneos.
Anselmo
Vieira
Sem comentários:
Enviar um comentário