sexta-feira, 29 de março de 2019

FONTÃO, VILA ROMANA



FONTÃO, VILA ROMANA
A Vila de FONTÃO estava bem localizada. Bem servida pela Via que do Porto se dirigia para Tui. E esta Via entrava em FONTÃO pela ponte do Arquinho, construída na Veiga das Patas. Subia ao lugar da Bouça Velha, ladeava a Veiga do Talho e, pelo Retiro, pelo Rego e Lomba, entrava pelo Lugar das Necessidades, na freguesia de S. Pedro de Arcos; passava pela Gala e dirigia-se para Esturãos, cujo rio vencia em nova ponte, rodeava a lagoa de Bertiandos e dirigia-se para Arcozelo em Ponte de Lima, donde seguia para Tui, capital destas terras, naquele tempo.
Ainda na ponte do Arquinho, a Via Romana bifurcava-se. Ladeava pelo Sul, a Bouça Velha, e dirigia-se ao Rebordelo pela quingosta da Gala, atingia o Souto, atravessava a Arca e, bordejando as Regadas, dirigia-se, entre os Poços e os Linhares, seguia pela Bouça do Homem, para a Veiga da Anta, passava onde é agora a Ponte Nova para a Veiga de Cima e pelo poço da Liteira, onde se vê ainda calçada romana. Atravessava para Bertiandos por nova ponte, sobre o riacho a pouca distância da sua foz.
A Vila agregava todo aquele território que hoje se divide pelas três freguesias: Fontão, Arcos e Esturãos.
Como podemos imaginar, eram terras húmidas, pantanosas, encharcadas ao lado duma lagoa, que não abonava da salubridade do seu clima. Por isso não seria muito povoada. Mas eram ricas de pastos.
Talvez por isso, atraíram a atenção dum empresário Romano, que nelas viu a oportunidade de fundar uma empresa pecuária de criação de gado bovino. Não sabemos quem foi o Romano que se aventurou. Mas o nome GALA aparece como nome de um Lugar em S. Pedro de Arcos. E em Fontão aparece a quingosta da Gala.
GALA era o nome duma família Romana, cliente da família Júlia, que vivia do negócio do leite. Esta família acompanhou Júlio César, quando este veio como governador para a Espanha. Bem pode ter sido esta família que esteve na origem da Vila.
Desconhecemos as suas dificuldades e êxitos. Mas o governo do imperador Cláudio e a conquista da Inglaterra, no tempo do mesmo, trouxeram a esta região e a toda a Galiza, uma grande atividade construtora de vias e grandes movimentações de tropas. Aqui ficaram muitas das bases de apoio às legiões que operavam na Grã-Bretanha. É provável que estas atividades tenham ajudado a vingar e incrementar o empreendimento da Vila.
Naturalmente baseado no trabalho dos escravos, o Senhor progrediu e aumentou o seu poder. Só isto pode explicar a abertura do rio da Vala, que exigiu certamente um grande esforço e comandamento unitário. Esforço que se justificaria, mesmo que feito a título particular, para aumentar e melhorar as pastagens.
Mas da vida desta Vila, nós ignoramos; porque, dela tudo foi esquecido.
É provável que a unidade deste empreendimento tenha sido posta em causa com a chegada dos Suevos.
Penso que foi durante o tempo Romano propriamente dito, que o Fontanos se tornou no rio Podre, devido ás épocas das matanças, quando nele se lavavam as carcaças e se lhe arremessavam os detritos dos animais abatidos indústria dos curtumes, ao aproveitamento das vísceras, indústria da Dobrada; talvez, para alimento dos escravos.
Em toda esta época, desde a Galiza até às Vascongadas se espalha esta gastronomia CALLOS e tripas à moda do Porto, em Portugal. Ainda hoje se mantém.
Uma segunda fase tem começo no séc. VIII. Foi quando os Árabes chegaram à Galiza, e encontraram aqui o reino dos Suevos, federados com os Visigodos. Os Árabes perseguiram e destruíram todas às estruturas de poder, e decretaram a libertação dos antigos servos ou escravos. Todos passaram a ser livres e senhores dos seus destinos, sob a autoridade do novo conquistador.
Os antigos senhores desapareceram. Mas a vida continuou. Era preciso continuar o trabalho. A vida continuava, agora mais responsável. Cada um dependia de si. A vida parecia a mesma, nos mesmos locais, nas mesmas canseiras. Mas, agora livres e responsáveis.
Isto explica a manutenção da Toponímia e a sua continuidade.
Mas a surpresa vem, agora pelo mar. E subiu pelo rio…
Aparecem os Viquingues. Normandos vem parar saquear, roubar, recolher cativos para vender como escravos. Vem, assaltar, roubam, matam, cativam e retiram. Mas voltam novamente e surpreendem sempre. No Alto de Fontão, os Árabes erguem uma torre de vigia, uma Giralda. Mas inútil. Os Normandos voltam sempre. A fuga é o único remédio. Os Muçulmanos retiram para o Sul. Os Fontanenses, certamente para a serra de Arga. E a vida, desamparada de um poder central torna-se um inferno. A serra de Arga é o seu refúgio. Num lugar combinado, o Retiro, juntam-se com os seus haveres e o seu gado e fogem para a serra onde podem demorar o tempo necessário. Abandonados de qualquer poder central, tornam-se serranos, da serra que os protege: Arga.
Livres dos antigos senhores, escorraçados os Árabes, os antigos servos da Vila Romana estão sozinhos, entregues a si mesmo.
Mas são autónomos, autoafirmam-se.
Em Aveiro os Normandos exploram as salinas. Evoluem do saque para o comércio. Convertem-se ao Cristianismo.
Direcionam a sua fúria guerreira só contra os muçulmanos. Aliam-se aos cristãos. Os reis das Astúrias preparam a ofensiva.
Chegam outros tempos.
Na Vila Romana os naturais conseguem entender-se com os antigos agressores. Ao entendimento, segue-se o comércio.
A prosperidade regressa. Aproximam-se os tempos dos Presores. A reorganização das Paróquias. Os reis das Astúrias aproveitam o vazio para imporem a sua autoridade e o seu fisco.
Na antiga Vila Romana o gado pasta no Ameal e na encosta da serra. No Toural reúnem-se os reses a abater. O Rio Podre, apodrece ainda mais. No Valo fervilham as embarcações. E os carregamentos de peles e de carnes sulcam o Lima em direção ao mar.
Depois vem os peregrinos de S. Tiago. São os turistas daquele tempo. E os negócios incrementam-se.
Por último, surgem as Cruzadas. Mesnadas de guerreiros marcam encontro na Galiza, a caminho da Terra Santa. Era preciso fornecer estes guerreiros.
Os lucros comerciais aumentam. A economia progride. A Galiza impõe-se no contexto social cristão do Norte de Espanha, fruto da sua florescente economia. A Vila de FONTÃO acompanha este movimento. Entretanto nasce um novo Reino: Portugal. É em Portugal, que de futuro se reúnem os Cruzados a caminho da Terra Santa.
O novo rei necessita de recolher impostos e impõe o fisco a troco de defesa. A segurança nos caminhos é a condição da aceitação. Aí está o lugar das Torres a atesta-lo. Em frente ao Ameal, de vigia aos gados e às pastagens. E a família dos Serenos, certamente guardas régios, garante a segurança e o recebimento dos impostos.


Anselmo C. Vieira

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