quinta-feira, 28 de março de 2019

Cronologia


Cronologia

VILA ROMANA. Do anteriormente dito, concluo que os Fontanenses, não foram agricultores, mas criadores de gado. A agricultura foi marginal e direcionada à criação de pastagens.
A origem da criação de gado, remonta aos tempos Celtas. Ou de antes. A certa altura chegam os Romanos. E incrementaram esta atividade.
Com Júlio César, vieram de Roma para a Espanha, muitas famílias a ele associadas e da sua clientela. Uma dessas famílias pode ter assentado nestes sítios, e aqui criado uma Vila: um empreendimento agropecuário. Pode mesmo ter sido a família GALA, que Jaques Pirene aponta como sendo da clientela de César e que com ele veio para a Espanha.
Ora em S. Pedro de Arcos, aparece um lugar com este nome: Gala, Lugar da Gala. Lembro-me que o meu Pai chamava ao caminho que vem da Vitória para o Rebordelo: QUINGOSTA DA GALA.
A verdade é que esta família existiu em Roma, parece que proveniente de Creta, e veio para Espanha com Júlio César. A mulher do imperador Teodósio, que era espanhol, chamava-se Gala Plácida, e uma filha também.
Esta exploração pecuária, ter-se-á desenvolvido muito no tempo do imperador Cláudio, quando este pôs na região da Galiza algumas das bases de abastecimento às legiões romanas, que operavam na conquista da Grã-Bretanha. Nessa altura devem ter sido construídas as pontes do Arquinho na Veiga das Patas, a ponte sobre o rio Esturãos na Veiga de Cima, e também outra ponte de Esturãos naquela freguesia. Pode ter sido nessa altura, que o rio começou a ficar podre, consequência da indústria das carnes.
No tempo dos Romanos o trabalho era esclavagista. Isto tornou possível a abertura do rio da Vala que atravessa a Veiga da Anta, e sobre o rio foi construída a Ponte Nova, no caminho de Ponte de Lima.
A ideia de abrir a vala deve ter tido como finalidade a produção, aumento e melhoramento das pastagens e, talvez, o combate ao paludismo. Deve ter acontecido no tempo do imperador Teodósio. Provavelmente esta exploração estava naquele tempo, na sua posse, quem sabe se pelo seu casamento com Gala Plácida.
Depois vieram os Suevos e as respetivas convulsões. De qualquer modo foram meros comensais na mesa Romana.
No séc. VIII, chegaram os Árabes. Apresentaram-se como libertadores. Suprimiram toda a classe dirigente anterior, e libertaram os escravos. Por isso parece terem sido bem-recebidos e aceites.
Os antigos escravos puderam tomar nas suas mãos os seus destinos. Libertos dos antigos senhores, continuaram a explorar a Vila, agora por sua conta. E parecem ter dado conta do recado e assegurado a continuidade, a julgar pela continuidade da toponímia. A Vila Romana manteve-se, sem os antigos senhores.
Entretanto chega o séc. IX, e os Normandos. A vida, também por aqui, deve ter-se tornado um verdadeiro inferno: assaltos, pirataria, insegurança, pilhagem e matanças. Cativos, sequestrados, perseguidos…. Vendidos como escravos para o norte de África e outras paragens.
Os muçulmanos retiram para o Sul. A sociedade reorganiza-se. Cada um, entregue à sua sorte. Falta uma autoridade. As populações ficam desprotegidas, desamparadas.
Parece, no entanto, que a nossa Vila não se desorganizou totalmente. Provavelmente buscou refúgio na Serra de Arga. E foi-se aguentando. Foi provavelmente nesta altura, que apareceu um novo homónimo: o lugar do Retiro, como ponto de encontro dos vizinhos, para se retiraram para o refúgio da serra.
Retirados os invasores, os vizinhos voltavam e a vida continuava. Entretanto os Normandos mudam de atitude, tornam-se cristãos. Exploram as salinas de Aveiro, transformam-se em mercadores e trocam a pirataria pelo comércio. Foi possível o entendimento e renasceu a prosperidade. Os Piratas de ontem, são agora, comerciantes e clientes. A antiga fúria guerreira mantém-se, mas dirigida, agora contra os Mouros.
O VALO revive e fervilha de atividade. O antigo comércio das carnes intensifica-se. A indústria das vísceras, para a alimentação dos locais, floresce. É a indústria da Dobrada.
Os reis das Astúrias aproveitam a oportunidade, e enviam para cá os seus Presores. Deitam a mão interesseira a estas gentes desorganizadas e impõem a sua autoridade a todo o território da Galiza. Surge S. Tiago de Compostela e as suas peregrinações.
Das terras donde tinham vindo antes, piratas e comerciantes, vem agora Cruzados, mas sempre clientes. Abastecem-se e marcam ponto de encontro para outras incursões, ou para seguirem mais além.
A antiga Vila reparte-se em três. Mas, FONTÃO paga ao fisco o dobro. Porquê?
A prosperidade reinou pelos Séc. XI e XII.
Os primeiros tempos da monarquia portuguesa exigiram do rei segurança nos caminhos, como condição do acabamento do fisco.... É o que explica a presença dos Serenos, em FONTÃO.
Com D. Afonso III aparece a cidade de Viana. O gado desta região passou a ser abatido nesta cidade. A Vila de Fontão recebe um golpe mortal. O comércio da carne transfere-se. A indústria das vísceras desaparece. Os lucros passam para outras mãos. Foi o fim da Vila Romana. O rio deixou de ser podre. E tornou -se, saudosamente, no rio do Talho. E o Talho foi-se escondendo, escondendo… no subconsciente esquecido dos Fontanenses, até se tornar num fóssil, morto, mas que incomoda. Um ENIGMA que perturba.

6 de maio, de 2013

Anselmo C. Vieira

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