FONTÃO, VILA ROMANA
A
Vila de FONTÃO estava bem localizada. Bem servida pela Via que do Porto se
dirigia para Tui. E esta Via entrava em FONTÃO pela ponte do Arquinho,
construída na Veiga das Patas. Subia ao lugar da Bouça Velha, ladeava a Veiga
do Talho e, pelo Retiro, pelo Rego e Lomba, entrava pelo Lugar das
Necessidades, na freguesia de S. Pedro de Arcos; passava pela Gala e dirigia-se
para Esturãos, cujo rio vencia em nova ponte, rodeava a lagoa de Bertiandos e
dirigia-se para Arcozelo em Ponte de Lima, donde seguia para Tui, capital
destas terras, naquele tempo.
Ainda
na ponte do Arquinho, a Via Romana bifurcava-se. Ladeava pelo Sul, a Bouça
Velha, e dirigia-se ao Rebordelo pela quingosta da Gala, atingia o Souto,
atravessava a Arca e, bordejando as Regadas, dirigia-se, entre os Poços e os
Linhares, seguia pela Bouça do Homem, para a Veiga da Anta, passava onde é
agora a Ponte Nova para a Veiga de Cima e pelo poço da Liteira, onde se vê
ainda calçada romana. Atravessava para Bertiandos por nova ponte, sobre o
riacho a pouca distância da sua foz.
A
Vila agregava todo aquele território que hoje se divide pelas três freguesias:
Fontão, Arcos e Esturãos.
Como
podemos imaginar, eram terras húmidas, pantanosas, encharcadas ao lado duma
lagoa, que não abonava da salubridade do seu clima. Por isso não seria muito
povoada. Mas eram ricas de pastos.
Talvez
por isso, atraíram a atenção dum empresário Romano, que nelas viu a
oportunidade de fundar uma empresa pecuária de criação de gado bovino. Não
sabemos quem foi o Romano que se aventurou. Mas o nome GALA aparece como nome de
um Lugar em S. Pedro de Arcos. E em Fontão aparece a quingosta da Gala.
GALA
era o nome duma família Romana, cliente da família Júlia, que vivia do negócio
do leite. Esta família acompanhou Júlio César, quando este veio como governador
para a Espanha. Bem pode ter sido esta família que esteve na origem da Vila.
Desconhecemos
as suas dificuldades e êxitos. Mas o governo do imperador Cláudio e a conquista
da Inglaterra, no tempo do mesmo, trouxeram a esta região e a toda a Galiza,
uma grande atividade construtora de vias e grandes movimentações de tropas.
Aqui ficaram muitas das bases de apoio às legiões que operavam na Grã-Bretanha.
É provável que estas atividades tenham ajudado a vingar e incrementar o
empreendimento da Vila.
Naturalmente
baseado no trabalho dos escravos, o Senhor progrediu e aumentou o seu poder. Só
isto pode explicar a abertura do rio da Vala, que exigiu certamente um grande
esforço e comandamento unitário. Esforço que se justificaria, mesmo que feito a
título particular, para aumentar e melhorar as pastagens.
Mas
da vida desta Vila, nós ignoramos; porque, dela tudo foi esquecido.
É
provável que a unidade deste empreendimento tenha sido posta em causa com a
chegada dos Suevos.
Penso
que foi durante o tempo Romano propriamente dito, que o Fontanos se tornou no
rio Podre, devido ás épocas das matanças, quando nele se lavavam as carcaças e
se lhe arremessavam os detritos dos animais abatidos indústria dos curtumes, ao
aproveitamento das vísceras, indústria da Dobrada; talvez, para alimento dos
escravos.
Em
toda esta época, desde a Galiza até às Vascongadas se espalha esta gastronomia
CALLOS e tripas à moda do Porto, em Portugal. Ainda hoje se mantém.
Uma
segunda fase tem começo no séc. VIII. Foi quando os Árabes chegaram à Galiza, e
encontraram aqui o reino dos Suevos, federados com os Visigodos. Os Árabes
perseguiram e destruíram todas às estruturas de poder, e decretaram a
libertação dos antigos servos ou escravos. Todos passaram a ser livres e
senhores dos seus destinos, sob a autoridade do novo conquistador.
Os
antigos senhores desapareceram. Mas a vida continuou. Era preciso continuar o
trabalho. A vida continuava, agora mais responsável. Cada um dependia de si. A
vida parecia a mesma, nos mesmos locais, nas mesmas canseiras. Mas, agora
livres e responsáveis.
Isto
explica a manutenção da Toponímia e a sua continuidade.
Mas
a surpresa vem, agora pelo mar. E subiu pelo rio…
Aparecem
os Viquingues. Normandos vem parar saquear, roubar, recolher cativos para
vender como escravos. Vem, assaltar, roubam, matam, cativam e retiram. Mas
voltam novamente e surpreendem sempre. No Alto de Fontão, os Árabes erguem uma
torre de vigia, uma Giralda. Mas inútil. Os Normandos voltam sempre. A fuga é o
único remédio. Os Muçulmanos retiram para o Sul. Os Fontanenses, certamente
para a serra de Arga. E a vida, desamparada de um poder central torna-se um
inferno. A serra de Arga é o seu refúgio. Num lugar combinado, o Retiro,
juntam-se com os seus haveres e o seu gado e fogem para a serra onde podem
demorar o tempo necessário. Abandonados de qualquer poder central, tornam-se
serranos, da serra que os protege: Arga.
Livres
dos antigos senhores, escorraçados os Árabes, os antigos servos da Vila Romana
estão sozinhos, entregues a si mesmo.
Mas
são autónomos, autoafirmam-se.
Em
Aveiro os Normandos exploram as salinas. Evoluem do saque para o comércio.
Convertem-se ao Cristianismo.
Direcionam
a sua fúria guerreira só contra os muçulmanos. Aliam-se aos cristãos. Os reis
das Astúrias preparam a ofensiva.
Chegam
outros tempos.
Na
Vila Romana os naturais conseguem entender-se com os antigos agressores. Ao
entendimento, segue-se o comércio.
A
prosperidade regressa. Aproximam-se os tempos dos Presores. A reorganização das
Paróquias. Os reis das Astúrias aproveitam o vazio para imporem a sua
autoridade e o seu fisco.
Na
antiga Vila Romana o gado pasta no Ameal e na encosta da serra. No Toural
reúnem-se os reses a abater. O Rio Podre, apodrece ainda mais. No Valo
fervilham as embarcações. E os carregamentos de peles e de carnes sulcam o Lima
em direção ao mar.
Depois
vem os peregrinos de S. Tiago. São os turistas daquele tempo. E os negócios
incrementam-se.
Por
último, surgem as Cruzadas. Mesnadas de guerreiros marcam encontro na Galiza, a
caminho da Terra Santa. Era preciso fornecer estes guerreiros.
Os
lucros comerciais aumentam. A economia progride. A Galiza impõe-se no contexto
social cristão do Norte de Espanha, fruto da sua florescente economia. A Vila
de FONTÃO acompanha este movimento. Entretanto nasce um novo Reino: Portugal. É
em Portugal, que de futuro se reúnem os Cruzados a caminho da Terra Santa.
O
novo rei necessita de recolher impostos e impõe o fisco a troco de defesa. A
segurança nos caminhos é a condição da aceitação. Aí está o lugar das Torres a
atesta-lo. Em frente ao Ameal, de vigia aos gados e às pastagens. E a família
dos Serenos, certamente guardas régios, garante a segurança e o recebimento dos
impostos.
Anselmo C. Vieira