domingo, 31 de março de 2019

OS NORMANDOS


OS NORMANDOS

Estes povos deixaram marcas profundas em toda a Galiza e Norte de Portugal, mas quase foram esquecidos. No entanto, quase tudo que entre nós se atribui a tradições do paganismo, lhes é devido.
Chegaram cá a princípios do séc. IX, vindos da Dinamarca, Suécia e da Noruega e puseram a Galiza e Norte e Centro de Portugal a ferro e fogo. Os povos da margem do Lima devem ter vivido um inferno.
No séc. X, uma esquadra de 200 barcos ataca a cidade de Tui. E pouco depois a zona de Coimbra.
S. Rosendo, bispo de Mondonhedo, lutou contra eles a mando e às ordens do rei das Astúrias. A cidade de Guimarães, nasce dessas lutas. E o seu castelo ergue-se para defesa.
No séc. XI, aos antigos Viquingues juntam-se outros: Francos, Saxões e Holandeses.
Relacionam-se com os naturais, criam as salinas de Aveiro, e deixam os barcos Moliceiros no sal de Aveiro. É provável que tenham introduzido o gosto pelo Bacalhau. O sal de Aveiro pode ter salgado as carnes de FONTÃO.
D. Sancho I buscou entre eles maridos para suas filhas. Casou uma com o rei da Dinamarca, e outra com o rei da Noruega.
Nesse tempo ainda Fontão gozava duma economia próspera. E, provavelmente, foi no séc. XII, que se tornou uma Paróquia e Freguesia autónoma.
O ermamento, deve, pois, ser revisto à luz destas lutas e calamidades. A instabilidade e a insegurança reinaram nós séc. VIII, IX e X. As guerras, assaltos, saques, sequestros e levas de prisioneiros, vendidos como escravos. As matanças e todo o género de violências de que estas populações foram vítimas.
Apesar de tudo, os que resistiram foram capazes de garantir a continuidade. Forjaram o seu carácter e modo de ser, que é o seu carácter, ainda hoje.
Os nomes germânicos que se sucedem na Toponímia portuguesa, originam -se nestas épocas. Mas a Toponímia Fontanense manteve-se, fundamentalmente latina. Sinal de continuidade.

Anselmo Vieira

sábado, 30 de março de 2019

NORMANDOS


NORMANDOS

Foi a força Normanda que possibilitou a formação do Reino da Galiza e do Norte de Portugal. Possibilitou e forjou a idiossincrasia e o carácter o povo desta freguesia: Fontão.
Primeiro, porque foram os Normandos que tornaram impossível a vida Muçulmana nestes lugares. Atacaram os Muçulmanos e tornaram-lhes a vida impossível nestas regiões. Criaram o vazio de poder que permitiu e facilitou as atividades dos Presores Asturianos.
Mas, ao mesmo tempo proporcionaram a oportunidade de as populações locais se desembaraçarem dos antigos senhores e dirigentes, e de tomarem em suas mãos, a orientação dos seus destinos. Livres de antigos dominadores, adquiriram o gosto da liberdade e assumiram a sua autonomia, caminho para a Independência.
As presúrias cristãs da Galiza, devem-se à chacina implacável dos elementos Islâmicos. E foram os ataques Normandos os responsáveis por estas ferozes matanças.
Desde os princípios do séc. IX, os Normandos foram aparecendo no litoral da Galiza e Norte de Portugal.
Encontraram um povo que não lhes resistiu, e uma autoridade frágil, porque bisonha e de recente implantação. Estranha ainda às populações locais. Era Islâmica, e não Cristã. Fragilmente implantada, desertou rapidamente para Sul, deixando o campo livre.
Os Normandos não estavam interessados na ocupação. Pretendiam o saque e fazer cativos. Os Naturais, desorientados, espantados, foram sobrevivendo, fugindo e regressando repetidamente às suas terras, sem nunca as abandonarem.
A vida tornou-se-lhes um inferno, mas sobreviveram. A serra de Arga, foi o seu refúgio…
Entretanto, das Astúrias começam a chegar outros Cristãos. Com eles vem um princípio de autoridade e de organização.
Os Normandos começam a aderir ao Cristianismo. É possível um princípio de entendimento. De antigos piratas, os Homens do Norte tornam-se comerciantes. É possível o negócio...
O inimigo comum é agora o Muçulmano. Vai ser ele a vítima.
Os Galegos aceitam a autoridade Asturiana, mas sem muita convicção. E os Normandos estão mais do lado das populações locais.
Os Homens do Norte: Viquingues: Saxões, Francos, Ingleses, Holandeses, … chegam agora como comerciantes, mas também como peregrinos a S. Tiago de Compostela.
Com a sua ajuda, a economia Galega fortalece-se e cresce. O poder Asturiano sente dificuldades para impor-se, e é contestado.
À frente das populações locais, estão agora estes Francos ou Saxões, que organizam novas presúrias e criam no norte da Península, a convicção ainda hoje tão arreigada de que os estrangeiros são sempre melhores, e que basta ser soldado estrangeiro para ser bom oficial...
É à frente das populações locais, que estes estrangeiros levam a efeito grandes razias e criminosas chacinas sobre os restos das populações muçulmanas, que se encontram dispersas e desprotegidas.
E não é de boa vontade, que se submetem aos reis das Astúrias.
É o tempo das salinas de Aveiro, e da exploração pecuária e das carnes, nas margens do Lima e do Minho. Da exploração da carne bovina, dos curtumes e da indústria da tripa, aproveitamento das vísceras, os Callos galegos, Dobrada à portuguesa.
A prosperidade surge. A economia cresce. A ambição nasce. A rebeldia manifesta-se, frente ao poder Central.
Aproxima-se o aparecimento dum novo reino. D. Teresa e D. Afonso Henriques estão à porta.


Anselmo C. Vieira

sexta-feira, 29 de março de 2019

A Indústria da Dobrada e o Rio Podre



A Indústria da Dobrada e o Rio Podre

Rio Podre foi o nome que os antigos, talvez Romanos, deram ao rio de FONTÃO. Podre? Porquê?
A indústria das carnes. O aproveitamento das peles e das vísceras. A indústria das tripas. As peles curtidas nas águas do rio. As vísceras lavadas nas águas do mesmo. A indústria alimentar de los Callos usados na alimentação dos Galegos, dos Asturianos e dos Vascos. De todos os povos Cantábricos. Prato típico do norte de Espanha.
A origem das tripas à moda do Porto. Estava desvendado o enigma.
Houve tempos em que, inserido nesta economia, lá por fins do primeiro milénio, florescia nesta terra, que hoje é Fontão, um nicho de comércio florescente, baseado na exploração de gado bovino e na industrialização das suas carnes. Era no tempo dos reis das Astúrias.
As lutas com os Muçulmanos fazem movimentar os exércitos. E estes necessitam de ser abastecidos.
Do Norte chegam bandos de Cruzados, a caminho da Terra Santa, e marcam encontro nestas paragens da Galiza.
As peregrinações a caminho de Compostela, trouxeram muitos devotos, e vitalidade a esta economia.
Fontão estava integrado nesta economia e participava nela.
Em terra ficariam os miúdos dos animais, para alimento dos naturais. As vísceras para serem tratadas e transformadas nos Callos, Dobrada utilizados, provavelmente na alimentação dos pobres ou de todas as populações do Norte Cantábrico.
O rio ficaria decerto pútrido ou com esse aspeto, fruto destas atividades.


Anselmo C. Vieira

FONTÃO, VILA ROMANA



FONTÃO, VILA ROMANA
A Vila de FONTÃO estava bem localizada. Bem servida pela Via que do Porto se dirigia para Tui. E esta Via entrava em FONTÃO pela ponte do Arquinho, construída na Veiga das Patas. Subia ao lugar da Bouça Velha, ladeava a Veiga do Talho e, pelo Retiro, pelo Rego e Lomba, entrava pelo Lugar das Necessidades, na freguesia de S. Pedro de Arcos; passava pela Gala e dirigia-se para Esturãos, cujo rio vencia em nova ponte, rodeava a lagoa de Bertiandos e dirigia-se para Arcozelo em Ponte de Lima, donde seguia para Tui, capital destas terras, naquele tempo.
Ainda na ponte do Arquinho, a Via Romana bifurcava-se. Ladeava pelo Sul, a Bouça Velha, e dirigia-se ao Rebordelo pela quingosta da Gala, atingia o Souto, atravessava a Arca e, bordejando as Regadas, dirigia-se, entre os Poços e os Linhares, seguia pela Bouça do Homem, para a Veiga da Anta, passava onde é agora a Ponte Nova para a Veiga de Cima e pelo poço da Liteira, onde se vê ainda calçada romana. Atravessava para Bertiandos por nova ponte, sobre o riacho a pouca distância da sua foz.
A Vila agregava todo aquele território que hoje se divide pelas três freguesias: Fontão, Arcos e Esturãos.
Como podemos imaginar, eram terras húmidas, pantanosas, encharcadas ao lado duma lagoa, que não abonava da salubridade do seu clima. Por isso não seria muito povoada. Mas eram ricas de pastos.
Talvez por isso, atraíram a atenção dum empresário Romano, que nelas viu a oportunidade de fundar uma empresa pecuária de criação de gado bovino. Não sabemos quem foi o Romano que se aventurou. Mas o nome GALA aparece como nome de um Lugar em S. Pedro de Arcos. E em Fontão aparece a quingosta da Gala.
GALA era o nome duma família Romana, cliente da família Júlia, que vivia do negócio do leite. Esta família acompanhou Júlio César, quando este veio como governador para a Espanha. Bem pode ter sido esta família que esteve na origem da Vila.
Desconhecemos as suas dificuldades e êxitos. Mas o governo do imperador Cláudio e a conquista da Inglaterra, no tempo do mesmo, trouxeram a esta região e a toda a Galiza, uma grande atividade construtora de vias e grandes movimentações de tropas. Aqui ficaram muitas das bases de apoio às legiões que operavam na Grã-Bretanha. É provável que estas atividades tenham ajudado a vingar e incrementar o empreendimento da Vila.
Naturalmente baseado no trabalho dos escravos, o Senhor progrediu e aumentou o seu poder. Só isto pode explicar a abertura do rio da Vala, que exigiu certamente um grande esforço e comandamento unitário. Esforço que se justificaria, mesmo que feito a título particular, para aumentar e melhorar as pastagens.
Mas da vida desta Vila, nós ignoramos; porque, dela tudo foi esquecido.
É provável que a unidade deste empreendimento tenha sido posta em causa com a chegada dos Suevos.
Penso que foi durante o tempo Romano propriamente dito, que o Fontanos se tornou no rio Podre, devido ás épocas das matanças, quando nele se lavavam as carcaças e se lhe arremessavam os detritos dos animais abatidos indústria dos curtumes, ao aproveitamento das vísceras, indústria da Dobrada; talvez, para alimento dos escravos.
Em toda esta época, desde a Galiza até às Vascongadas se espalha esta gastronomia CALLOS e tripas à moda do Porto, em Portugal. Ainda hoje se mantém.
Uma segunda fase tem começo no séc. VIII. Foi quando os Árabes chegaram à Galiza, e encontraram aqui o reino dos Suevos, federados com os Visigodos. Os Árabes perseguiram e destruíram todas às estruturas de poder, e decretaram a libertação dos antigos servos ou escravos. Todos passaram a ser livres e senhores dos seus destinos, sob a autoridade do novo conquistador.
Os antigos senhores desapareceram. Mas a vida continuou. Era preciso continuar o trabalho. A vida continuava, agora mais responsável. Cada um dependia de si. A vida parecia a mesma, nos mesmos locais, nas mesmas canseiras. Mas, agora livres e responsáveis.
Isto explica a manutenção da Toponímia e a sua continuidade.
Mas a surpresa vem, agora pelo mar. E subiu pelo rio…
Aparecem os Viquingues. Normandos vem parar saquear, roubar, recolher cativos para vender como escravos. Vem, assaltar, roubam, matam, cativam e retiram. Mas voltam novamente e surpreendem sempre. No Alto de Fontão, os Árabes erguem uma torre de vigia, uma Giralda. Mas inútil. Os Normandos voltam sempre. A fuga é o único remédio. Os Muçulmanos retiram para o Sul. Os Fontanenses, certamente para a serra de Arga. E a vida, desamparada de um poder central torna-se um inferno. A serra de Arga é o seu refúgio. Num lugar combinado, o Retiro, juntam-se com os seus haveres e o seu gado e fogem para a serra onde podem demorar o tempo necessário. Abandonados de qualquer poder central, tornam-se serranos, da serra que os protege: Arga.
Livres dos antigos senhores, escorraçados os Árabes, os antigos servos da Vila Romana estão sozinhos, entregues a si mesmo.
Mas são autónomos, autoafirmam-se.
Em Aveiro os Normandos exploram as salinas. Evoluem do saque para o comércio. Convertem-se ao Cristianismo.
Direcionam a sua fúria guerreira só contra os muçulmanos. Aliam-se aos cristãos. Os reis das Astúrias preparam a ofensiva.
Chegam outros tempos.
Na Vila Romana os naturais conseguem entender-se com os antigos agressores. Ao entendimento, segue-se o comércio.
A prosperidade regressa. Aproximam-se os tempos dos Presores. A reorganização das Paróquias. Os reis das Astúrias aproveitam o vazio para imporem a sua autoridade e o seu fisco.
Na antiga Vila Romana o gado pasta no Ameal e na encosta da serra. No Toural reúnem-se os reses a abater. O Rio Podre, apodrece ainda mais. No Valo fervilham as embarcações. E os carregamentos de peles e de carnes sulcam o Lima em direção ao mar.
Depois vem os peregrinos de S. Tiago. São os turistas daquele tempo. E os negócios incrementam-se.
Por último, surgem as Cruzadas. Mesnadas de guerreiros marcam encontro na Galiza, a caminho da Terra Santa. Era preciso fornecer estes guerreiros.
Os lucros comerciais aumentam. A economia progride. A Galiza impõe-se no contexto social cristão do Norte de Espanha, fruto da sua florescente economia. A Vila de FONTÃO acompanha este movimento. Entretanto nasce um novo Reino: Portugal. É em Portugal, que de futuro se reúnem os Cruzados a caminho da Terra Santa.
O novo rei necessita de recolher impostos e impõe o fisco a troco de defesa. A segurança nos caminhos é a condição da aceitação. Aí está o lugar das Torres a atesta-lo. Em frente ao Ameal, de vigia aos gados e às pastagens. E a família dos Serenos, certamente guardas régios, garante a segurança e o recebimento dos impostos.


Anselmo C. Vieira

quinta-feira, 28 de março de 2019

Cronologia


Cronologia

VILA ROMANA. Do anteriormente dito, concluo que os Fontanenses, não foram agricultores, mas criadores de gado. A agricultura foi marginal e direcionada à criação de pastagens.
A origem da criação de gado, remonta aos tempos Celtas. Ou de antes. A certa altura chegam os Romanos. E incrementaram esta atividade.
Com Júlio César, vieram de Roma para a Espanha, muitas famílias a ele associadas e da sua clientela. Uma dessas famílias pode ter assentado nestes sítios, e aqui criado uma Vila: um empreendimento agropecuário. Pode mesmo ter sido a família GALA, que Jaques Pirene aponta como sendo da clientela de César e que com ele veio para a Espanha.
Ora em S. Pedro de Arcos, aparece um lugar com este nome: Gala, Lugar da Gala. Lembro-me que o meu Pai chamava ao caminho que vem da Vitória para o Rebordelo: QUINGOSTA DA GALA.
A verdade é que esta família existiu em Roma, parece que proveniente de Creta, e veio para Espanha com Júlio César. A mulher do imperador Teodósio, que era espanhol, chamava-se Gala Plácida, e uma filha também.
Esta exploração pecuária, ter-se-á desenvolvido muito no tempo do imperador Cláudio, quando este pôs na região da Galiza algumas das bases de abastecimento às legiões romanas, que operavam na conquista da Grã-Bretanha. Nessa altura devem ter sido construídas as pontes do Arquinho na Veiga das Patas, a ponte sobre o rio Esturãos na Veiga de Cima, e também outra ponte de Esturãos naquela freguesia. Pode ter sido nessa altura, que o rio começou a ficar podre, consequência da indústria das carnes.
No tempo dos Romanos o trabalho era esclavagista. Isto tornou possível a abertura do rio da Vala que atravessa a Veiga da Anta, e sobre o rio foi construída a Ponte Nova, no caminho de Ponte de Lima.
A ideia de abrir a vala deve ter tido como finalidade a produção, aumento e melhoramento das pastagens e, talvez, o combate ao paludismo. Deve ter acontecido no tempo do imperador Teodósio. Provavelmente esta exploração estava naquele tempo, na sua posse, quem sabe se pelo seu casamento com Gala Plácida.
Depois vieram os Suevos e as respetivas convulsões. De qualquer modo foram meros comensais na mesa Romana.
No séc. VIII, chegaram os Árabes. Apresentaram-se como libertadores. Suprimiram toda a classe dirigente anterior, e libertaram os escravos. Por isso parece terem sido bem-recebidos e aceites.
Os antigos escravos puderam tomar nas suas mãos os seus destinos. Libertos dos antigos senhores, continuaram a explorar a Vila, agora por sua conta. E parecem ter dado conta do recado e assegurado a continuidade, a julgar pela continuidade da toponímia. A Vila Romana manteve-se, sem os antigos senhores.
Entretanto chega o séc. IX, e os Normandos. A vida, também por aqui, deve ter-se tornado um verdadeiro inferno: assaltos, pirataria, insegurança, pilhagem e matanças. Cativos, sequestrados, perseguidos…. Vendidos como escravos para o norte de África e outras paragens.
Os muçulmanos retiram para o Sul. A sociedade reorganiza-se. Cada um, entregue à sua sorte. Falta uma autoridade. As populações ficam desprotegidas, desamparadas.
Parece, no entanto, que a nossa Vila não se desorganizou totalmente. Provavelmente buscou refúgio na Serra de Arga. E foi-se aguentando. Foi provavelmente nesta altura, que apareceu um novo homónimo: o lugar do Retiro, como ponto de encontro dos vizinhos, para se retiraram para o refúgio da serra.
Retirados os invasores, os vizinhos voltavam e a vida continuava. Entretanto os Normandos mudam de atitude, tornam-se cristãos. Exploram as salinas de Aveiro, transformam-se em mercadores e trocam a pirataria pelo comércio. Foi possível o entendimento e renasceu a prosperidade. Os Piratas de ontem, são agora, comerciantes e clientes. A antiga fúria guerreira mantém-se, mas dirigida, agora contra os Mouros.
O VALO revive e fervilha de atividade. O antigo comércio das carnes intensifica-se. A indústria das vísceras, para a alimentação dos locais, floresce. É a indústria da Dobrada.
Os reis das Astúrias aproveitam a oportunidade, e enviam para cá os seus Presores. Deitam a mão interesseira a estas gentes desorganizadas e impõem a sua autoridade a todo o território da Galiza. Surge S. Tiago de Compostela e as suas peregrinações.
Das terras donde tinham vindo antes, piratas e comerciantes, vem agora Cruzados, mas sempre clientes. Abastecem-se e marcam ponto de encontro para outras incursões, ou para seguirem mais além.
A antiga Vila reparte-se em três. Mas, FONTÃO paga ao fisco o dobro. Porquê?
A prosperidade reinou pelos Séc. XI e XII.
Os primeiros tempos da monarquia portuguesa exigiram do rei segurança nos caminhos, como condição do acabamento do fisco.... É o que explica a presença dos Serenos, em FONTÃO.
Com D. Afonso III aparece a cidade de Viana. O gado desta região passou a ser abatido nesta cidade. A Vila de Fontão recebe um golpe mortal. O comércio da carne transfere-se. A indústria das vísceras desaparece. Os lucros passam para outras mãos. Foi o fim da Vila Romana. O rio deixou de ser podre. E tornou -se, saudosamente, no rio do Talho. E o Talho foi-se escondendo, escondendo… no subconsciente esquecido dos Fontanenses, até se tornar num fóssil, morto, mas que incomoda. Um ENIGMA que perturba.

6 de maio, de 2013

Anselmo C. Vieira

TOPÓNIMOS



TOPÓNIMOS

Foi o meu Pai que me meteu na cabeça o bichinho da curiosidade, quando me contou que na foz do rio do Talho, existia um tear de ouro enterrado na areia. Isto nunca mais me saiu da ideia.
Aprendi que uma lenda não era uma verdade. Mas, também aprendi que uma lenda, esconde uma verdade esquecida.
Por isso, tentei desvendar a verdade que esta lenda encerra.
Chegaram-me às mãos muitos papéis com histórias de personagens, capelas e figurões importantes, mas que não encaixam com o tema que me preocupava.
Virei-me para a toponímia dos Lugares. Verifiquei que a Veiga que estava mesmo em frente do possível tear se chamava: Veiga do Valo. Ora valo, é um fundeadouro onde ficam ancorados os barcos. Logo, o fundeadouro ou ancoradouro, onde se encontra o tear, dá nome à Veiga, o que indica que é mais importante que a mesma, já que é lugar de referência.
Logo a seguir, para montante, segue-se a Veiga do Talho. Talho pode ter muitos significados, mas, o mais importante é o que se torna referente. Não é o talho da Veiga, mas a Veiga do Talho. E o rio do Talho prolonga-se até um ponto em que deixa de chamar-se do Talho e passa a chamar-se para montante, rio Velho. Certamente para designar maior antiguidade. Tudo isto parece indicar que no rio, anteriormente conhecido, se localizou um talho tão importante que influenciou todo o posterior historial do rio, até lhe modificar a toponímia. E o local do tal Talho, bem pode ser um sítio onde hoje se localiza uma “Eira” que é anacrónica pela sua localização e por ser a maior de Portugal. Para montante do rio fica o Toural e a seguir as Torres e o Ameal.
A partir de um certo tempo, o Rio deixa de chamar-se do Talho e passa a chamar-se: Rio Podre. Porquê?
Às pastagens do Ameal, o Toural, o Talho, o tear do Valo, tudo nos leva a pensar tratar-se de negócios da criação de gado bovino e suas carnes e peles. O rio Podre do Talho para a foz insinua a lavagem das carcaças, dos desperdícios deitados para o rio, e da lavagem e aproveitamento das vísceras. Pensamos ainda, na indústria da tripa, a dobrada, que deu origem ao prato gastronómico: Tripas à moda do Porto.
Neste contexto a palavra Toural ganha relevo. Nada de figurões, mas gado. A economia da carne e do gado bovino, tão abundante nestas regiões, e que tanto atraiu a atenção de povos antigos como os Gregos, que aqui puseram o décimo trabalho de Hércules, roubando, na Corunha, os bois de Gerião.
É nesta linha de economia que se encaixa a vivência esquecida e arrumada, no inconsciente da alma Fontanense.
Houve, pois, um tempo em que em FONTÃO se desenvolveu uma florescente criação de gado bovino e um rico comércio de carnes e curtumes. Este comércio formatou a alma Fontanense. Depois tudo se apagou e desapareceu. Mas, quando e porquê?
É o que vamos averiguar.
Como surgiu esta atividade? Como se desenvolveu? Quais os seus períodos? Qual o seu esplendor? Porque desapareceu? Quando?
Porquê, sendo Fontão, uma pequena freguesia e pobre, pagava ao fisco o dobro das freguesias vizinhas?
Porquê sendo Fontão uma freguesia de criadores de criadores gado e não agrícola, tem a maior eira de Portugal?
4 de maio, de 20l3
Anselmo C. Vieira

FONTÃO Um fóssil arqueológico na Ribeira Lima


FONTÃO

Um fóssil arqueológico na Ribeira Lima

Sendo eu criança, fui limpar de pedras um terreno no campo dos Linhares e encontrei uma pedra em forma vértebra.
Formava um conjunto de três vertebras seguidas por um apêndice de umas cinco vertebrazinhas. Muito mais pequeninas. Parecia um fragmento d’uma coluna vertebral, de um grande animal. Fiquei muito admirado que uma pedra pudesse adquirir aquela forma, que hoje estou convencido tratar-se de um fóssil. Mas, na altura eu teria uns onze anos. Nunca tinha ouvido falar de fósseis.
Lancei o que pensava serem pedras para o monte. Mais tarde foram destinadas a tapar buracos nos caminhos.
O povo Fontanense é um caso sério de antiguidade, na região do Alto Minho. A sua proximidade ao rio Lima poderia levar-nos à conclusão, que se trata de gente ribeirinha, de trato fácil e suave como os vales em que labuta. Nada mais enganoso.
Os Fontanenses revêem-se nas encostas da Serra de Arga. Na sua áspera rudeza. De costas viradas para o rio. Nem reparam nele. Tem o gesto brusco e tosco das ásperas gentes serranas. Olham para a Serra, como se fora a sua casa. E estão sempre dispostos a subi-la, seja a pretexto da romaria de S. João, da Senhora do Minho, se não simplesmente, a S. Lourenço da Montaria e seus enchidos.
Do rio, temem mais os perigos e as novidades, do que espreitam as oportunidades. Fechados, desconfiados não aceitam libertadores estranhos.
À maneira antiga, discutem as decisões a tomar. Mas, depois, são muito unidos e determinados... Se pressentem uma imposição estranha, rejeitam-na, em atitudes inesperadas, desajeitadas e contundentes que deixam desconcertado, o intruso. São muito fiéis às suas tradições, e conservadores nos seus costumes.
Como seus ancestrais, dedicam-se à criação de gado bovino; e ainda a conservam, juntamente com a produção de carne, como sua atividade principal.
Ocasionalmente, dedicam-se à produção mineira como os antigos, sempre que a ocasião o proporcione. E sempre na dependência da Serra.
As mudanças foram-lhe sempre impostas do exterior e aceites a contragosto. A conquista Romana primeiro; e a respetiva colonização. Depois, o cristianismo triunfante no séc. IV. A seguir, a conquista Sueva e a Muçulmana, apesar de esta lhes ter trazido a liberdade! A libertação da escravatura. Já quase no nosso tempo, a invasão da Estrada Nacional, de Fontes Pereira de Melo; seguida pelo fracassado projeto do caminho de ferro do Vale do Lima, no tempo do Estado Novo.
Estes projetos abriram na freguesia um desgarramento tal, que quase lhe mataram a alma. Nunca foram totalmente aceites, nem assimilados. Por isso, Fontão e os Fontanenses, aparecem ao observador estranho como um fóssil civilizacional, ferido e traumatizado, que o esquecimento da memória torna ainda mais desconcertante e trágico.
Assim, o Fontanense aparece ao estranho como alguém que perdeu algo, e não sabe o quê. Também a mim, Fontão se me apresentou como um enigma. Enigma que através das minhas cogitações, tentei decifrar. Penso que o consegui.
Ficaria feliz, se as minhas conclusões funcionassem como uma análise psicanalítica para alívio e libertação da alma Fontanense e sua cura.
É, pois, o enigma de Fontão que me proponho decifrar ou, pelo menos, motivar alguém mais douto e mais clarividente, que o faça, depois de mim.

NOTA: O fóssil que encontrei nos Linhares devia ser de um animal bastante corpulento. Pertencia às vertebras, às três ligadas à cauda. A maior pesaria quilo e meio. Seguia-se uma cauda que devia ter sido minúscula, composta de umas cinco vertebras ou mais. Todas tiveram o mesmo destino: o buraco dum caminho...


Anselmo Vieira

terça-feira, 26 de março de 2019

O ENIGMA DE FONTÃO



O ENIGMA DE FONTÃO

Fontão é um caso sério de se entender. Pequena freguesia Limiana, está cheia de contradições. O nome vem-lhe dum riacho que corre em toda a sua extensão a poente, separando-a da vizinha freguesia de Lanheses.
Ao riacho chamaram os antigos: Fontanus. Nome que vem da Alta Idade Média, ou, talvez, dos Romanos que a antecederam. Mas o riacho passou a chamar-se: Rio Podre, parece que já antes do Séc. VI ou dos Suevos. A terra por onde o riacho corria herdou-lhe, então o nome, e veio a chamar-se: FONTÃO. É daí, que veio o nome da freguesia.
Mas o riacho encontra-se com o rio Lima, num valo, ou fundão, onde outrora, ancoravam pequenas embarcações puxadas à vara, era um varadouro. O valo existe, ou existiu, e tem em frente uma veiga que dele recebe o nome: a Veiga do Valo.
Mas, em Fontão, ninguém se dá conta disso!...
O rio Podre volta a perder o nome, e passa a chamar-se rio do Talho, e a sua veiga, Veiga do Talho. Mas onde está o Talho? Nem se suspeita dele.
O rio do Talho ou rego do Talho desaparece pouco acima. Mas continua no Rio Velho, no Lugar do Rio Velho, e ninguém repara.
Seguindo para cima, chegamos ao Toural. Mas, que Toural? Parece que ninguém se dá conta. Existe a família dos SERENOS! Em Fontão, porquê? Que faziam os serenos em Fontão? Quer dizer: os nomes existem. Mas não significam nada.
Como é possível?
Existem as Torres. O lugar das Torres. Que Torres. Para que serviam?
Existe o Alto da Giralda. A Giralda existiu no alto da Vitória. Quem a ergueu? Quem a levantou? Ninguém se preocupa de o saber.
Existe a estradinha nova. Quando foi construída? Por quem? Onde estão as velhas?
Existe a Ponte Nova, no Rego da Vala. Quais eram as velhas?
Há tantos topónimos em Fontão, que nada significam aos atuais Fontanenses, e a nada correspondem.
Não será isto um anacronismo?
Mas é a isto que eu chamo, o Enigma de FONTÃO. Ou melhor, também a isto. E é isto que pretendo desvendar.
Anselmo Vieira

1 de maio, de 2013

quinta-feira, 14 de março de 2019

Machado Paleolítico em seixo talhado, na Praia Norte de Viana do Castelo

Machado Paleolítico em seixo talhado, na Praia Norte de Viana do Castelo






Este seixo tem de comprimento 11 cm.
De largura tem 9cm.
De espessura 4cm.
De peso 450 gramas.
Tem a forma de martelo ou de machado.
Tem uma zona de pescoço trabalhado com a técnica de lascamento.
Tem um rebordo a toda a volta.
Tem um gume e uma linha de corte numa das bases.
Na outra base mantém a superfície primitiva, configurando forma de martelo.
Trata-se de um seixo rodado e que foi afeiçoado de forma a obter um instrumento de corte e de percussão.

Achado de superfície, na escombreira de seixos entre os afloramentos rochosos e a linha limite da plataforma marítima da dita praia.
Pesquisando entre os seixos, deteve-se o meu olhar num godo, estranho pelas suas linhas irregulares, cujas formas excitaram a minha curiosidade.
É um seixo talhado em forma de biface pela técnica do lascamento.
Quanto mais o observei, mais me convenci tratar-se de um instrumento pré-histórico da época do Paleolítico Superior, a anunciar já uma época de transição.
O seu material é de quartzito. Tem a forma de um machado. Denota muito uso e desgaste e, a patine, grande antiguidade.
O corte ou fio em forma de biface, bastante polido pelo uso, denota princípio de fissuras, talvez resultado do impacto dos golpes, quando foi utilizado.
À primeira impressão pensei tratar-se de um artefacto de um qualquer mariscador da cultura Asturiense, presente nas atuais praias de entre Minho e Lima.
Observando melhor achei o utensílio muito complexo, para uso tão simples. Além disso, pareceu-me duvidoso que a orla do mar chegasse no tempo do mesmo ao sítio onde ele foi encontrado agora, à Praia Norte de Viana do Castelo. Nesse tempo o mar devia estar muito distante da orla actual.
De fato, o nosso objecto tem a forma de um machado, com um alongado fio de corte.
Ocupa esse fio, em dupla face, a parte maior do artefacto. Segue-se-lhe um rebordo bastante tosco e irregular que o rodeia a toda a volta. A seguir outra superfície em forma de pescoço, talhado em pequenas lascas, bastante polidas que parece ter sido zona de agarramento, ou para encabamento de bastão de madeira, que o tornaria num eficaz instrumento de corte, ou numa mortífera arma de guerra, na luta corpo a corpo.
O nosso instrumento remata num pequeno cabeço em forma de martelo, única parte do seixo que se mantém na sua forma original de seixo, sem lascamento. Seria muito eficaz e contundente nas pancadas por ele desferidas.
Toda esta evidente complexidade sugeriu-me tratar-se de um machado de guerra, projectado e realizado por um ser muito inteligente e que o programou para múltiplas e complexas finalidades.
Demasiado complexo para ser um simples instrumento de extracção de mariscos, concluí tratar-se de um utensílio com mais de vinte mil anos, antes da desglaciação que, encontrando-se embora na orla da praia, da mesma estaria muito distante na época em que foi fabricado.
Entretanto deu-se o degelo, o nível das águas do mar foi subindo até ao nível actual em que o fui encontrar. As ondas batendo na orla marítima continental arrancaram-no à luz do dia e criaram um contexto diferente, mas que deixam adivinhar um continente submerso e uma civilização destruída, talvez relacionada com o que agora chamamos de Cultura Asturiense e que os antigos lembram na lenda da Atlântida, que tanto impressionou os escritores antigos como Platão e os Egípcios, seus contemporâneos.


Anselmo Vieira

segunda-feira, 4 de março de 2019

Os mistérios do Rio Fontão


Os mistérios do Rio Fontão

O rio Fontão que separa a Freguesia do mesmo nome da de Lanheses, na margem direita do Rio Lima, ao que vem ter, com as águas que escorrem da serra de Arga, pela encosta de Silvareira, surpreende-nos pelas muitas curiosidades que nos questionam.
Antes de mais, a ponte romana que o atravessa, entre a veiga das Patas e os lugares da Bouça Velha e de Infesta, Alto de Fontão, que já se chamou Alto da Giralda e, agora, Vitória. Esta velha ponte continua a dar passagem a um caminho medieval, antiga via romana, provavelmente obra do Imperador Cláudio.
Outra curiosidade é que o pequeno ribeiro desagua num fundão que tanto pode ser natural como artificial, por isso conhecido por “Valo”. Agora está assoreado, mas que eu conheci, na meninice, quando era um varadouro de muitos barcos, cheio de bulício de barqueiros e suas mulheres, e até crianças que neles faziam suas moradas, nos meses quentes.
Diziam os antigos que no fundo das areias desse Valo ou Fundão, jazia um tear de ouro. Crença que nos sugere uma reminiscência de frutuosos negócios. O Valo dá nome à Veiga, que o rodeia, pelo menos pelo lado de Fontão. Quem sabe se, porque nela acampassem os mercadores que aí acorriam?
Mas à medida que caminhamos para montante o Rio deixa de chamar-se de Fontão, para chamar-se Rio do Talho e à veiga que o rodeia: Veiga do Talho. Contudo os naturais nem sempre o apelidaram assim. Houve épocas em que foi conhecido como Rio “Podre”. E é assim que foi mencionado nos mapas dos Serviços Cartográficos do Exército e nos dos Serviços Cadastrais.
A penetrar na freguesia, no Lugar do Retiro aparece à margem do rio uma enorme “Eira”, que dizem ser a maior de Portugal, e surpreende pela dimensão e localização. Porquê o anacronismo?
O certo é que neste ponto o rio deixa de chamar-se Rio do Talho ou Rio Podre, e segue pela nascente com o nome de: “Rio velho”!...
Com este nome continua pelo Toural, pelo Ameal e pelas Torres para as Neves até se perder na Silvareira.
Todos estes pormenores: o Toural, junto às ricas pastagens do Ameal, das Neves e das Torres, o anacronismo duma Eira desproporcional e deslocada indicia-nos não ter sido esse, no início, o seu destino.
E porque não o antigo Talho, que deu nome ao rio? Talho ou açougue com dimensões industriais, para alimentar um rico comércio de carnes, que deu nome ao rio, por onde corriam os detritos ou desperdícios, dando-lhe o aspeto nauseabundo ao cheiro e ao olhar, Rio Podre. Mas coroado com o tear de ouro na sua foz a sugerir-nos negócios lucrativos esquecidos no tempo, mas cristalizados na Lenda.
Penso que todas estas reminiscências se poderão reportar aos tempos romanos da época de Cláudio aproveitando a oportunidade da conquista da Inglaterra… Ou na época de Teodósio, em que estas terra parece terem vivido tempos de prosperidade.
Mas parece também que já na época Suévica o rio do Talho se chamava rio Podre.
O termo Toural parece aportar à Alta Idade Média. Neste caso terão sido os Normandos, quando esta região do Lima se tornou uma autêntica colónia Dinamarquesa, que dinamizaram estas actividades, e nelas terá tido origem a indústria da tripa ou “dobrada”, embora seja mais crível que esta terá surgido para alimentar os escravos nos tempos de Roma.
A receita culinária da “Dobrada”, típica do Norte de Portugal e que se estende por toda a Galiza, Astúrias e Bascongadas, no chamado prato dos “Calhos” e que deu origem ao mito dos “Tripeiros”, terá esta origem e remontará a esses tempos. Os primeiros tripeiros terão sido, pois, os escravos romanos destas regiões.

Anselmo Vieira

(Arqueólogo)

Nas origens de Fontão



Nas origens de Fontão
Desconhecem-se as origens de Fontão. Terra e gentes de caraterísticas acentuadamente rústicas, não teve “certidão” de nascimento. Ou, se a teve, perdeu-se com o andar dos tempos. Mas, a Arqueologia pode preencher esta lacuna.
Penso que o berço da “terra” se poderá encontrar no pequeno “Outeiro” que é agora o Lugar dos Remédios mas ainda ninguém o confirmou…
Os dados arqueológicos dizem-nos que por aqui se afadigaram muito os Romanos, desde pelo menos cem anos antes de Cristo. De fato, estes deixaram-nos pelo menos três pontes, cujas técnicas os estudiosos concordam, sem dúvida, atribuir-lhes. São elas: a Ponte do Arquinho, sobre o Rio Fontão, na veiga das Patas; a Ponte Nova, sobre o Rego da Vala, na Veiga da Anta; e, na Veiga de Cima, a Ponte sobre o Rio Estorãos que dá passagem, de Fontão para Bertiandos. Todas estas pontes seguem, num troço de uma via secundária Romana que vinha do sítio do Barco do Porto, em Serreleis, e por aqui passava em direção a Ponte de Lima. Era o antigo caminho medieval, que serviu a freguesia desde o tempo dos Romanos, senão antes, e o único até há bem pouco tempo.
A ponte do Arquinho, ou das Patas, liga Lanheses a Fontão. Penso que tem três arcos e uma calçada de grandes lages. A partir desta ponte a Via Romana sofre uma bifurcação em dois braços: um que se dirige para a Serra e segue pela antiga estrada de Valença para a ponte, também Romana, de Estorãos; outro braço que bordeja as Veigas do Rio Lima e pelas “Regadas” segue pela Arca, Souto, Linhares para a Ponte Nova, na Anta e dali para a Veiga de Cima, para entrar em Bertiandos, na Ponte sobre o Rio Estorãos. Esta é a segunda ponte.
Estas duas pontes são as mais antigas, talvez uns trezentos anos mais velhas que a Ponte Nova. Daí o nome desta.
Estes dois braços de caminho justificam-se, talvez, pelas dificuldades que haveria no inverno de vencer o obstáculo da Lagoa de Bertiandos que se atravessava pela frente. A Lagoa deve ter sido, nos tempos de construção destas pontes, muito maior, mais extensa e difícil de vencer. Devia prolongar-se por aquilo que em Fontão chamam as Regadas e que se prolongam por toda a extensão das Veigas do Rio Lima, entre estas e a freguesia.
Estas pontes e os respectivos caminhos que servem foram edificados e abertos no tempo do Imperador Cláudio, como obras de apoio ao seu empreendimento de conquista da Inglaterra.
Por toda a Galiza foram construídas bases de apoio às Legiões que operavam na ilha Britânica.
A Ponte Nova é muito mais recente e moderna. Tenho para mim que foi obra dos tempos do Imperador Teodósio ou de seu pai, governador da parte ocidental do império e que pode ter sido o dono destas terras. Ele, ou a sua família ou a família da sua mulher. Provavelmente para obtenção de novas áreas de pastagens, enxugando os terrenos pantanosos pelos quais a lagoa se estendia. Trata-se pois, de um empreendimento destinado a incrementar as actividades pecuárias.
O projecto era constituído pela abertura de um canal entre a Lagoa e o Rio Lima para escoar as águas da mesma e drenar os terrenos circundantes, enxugando-os.
Como esse canal ou vala atravessava uma via principal, muito importante para as populações locais, foi necessário incluir nas obras uma ponte, cujo nome não se sabe, mas que os naturais chamavam, muito simplesmente, Ponte Nova. Certamente por relação à ponte mais antiga sobre o Rio Estorãos, da qual fica muito perto.
Estas obras exigiram um esforço tão colossal em gastos e mão-de-obra que, talvez só a família Imperial estivesse em condições de executar.
Esta Vala e esta Ponte constituíram uma obra verdadeiramente espantosa, mudaram a fisionomia destes sítios. Aumentou e melhorou as pastagens e as possibilidades pecuárias desta terra, até aos dias de hoje. Melhorou as condições sanitárias da região e os terrenos de cultura. Dotou a freguesia de mais um rio: o Rego da Vala.
A maior parte dos terrenos, antes cobertos pela Lagoa, tornaram-se verdes pastagens, que ainda hoje permitem uma rica economia pecuária.
Anselmo Vieira

(Arqueólogo)