O Rio da Vala
Não
sabemos a data certa em que foi fundada a Vila romana em Fontão. Não há
registos. Nem admira. Era, apenas, uma vila rústica. Talvez nem tivesse uma
casa de moradia para o seu empresário. Mas temos indícios toponímicos que
apontam para a família Gala.
O
tempo parece apontar para o governo de Júlio César. Este, pela sua ação, criou
a melhor oportunidade para a fixação de colonos Romanos, nesta região. As suas
vitórias sobre os autóctones e a respetiva escravização dos mesmos, criou as
condições oportunas para a exploração em grande escala, da região.
A
família Gala acompanhou o Procônsul quando este veio de Roma, como cliente do
mesmo. E, sem dúvida, colaborou com ele e ajudou-o na extorsão e roubo das populações
locais, reduzindo-as à escravatura.
A
extensão da Vila, incluiria todo o território das freguesias a poente da lagoa
de Bertiandos, isto é: Fontão, Arcos e Esturãos.
Os
limites iriam da lagoa ao Fontanos, a poente, que limitaria com Lanheses.
Esta
exploração agropecuária, deve ter tido um início pujante pelos anos 40 A.C., e
estaria baseada na força do trabalho escravo.
Pelos
anos 40 D.C., com o governo de Cláudio, teve uma grande oportunidade. Estas
terras e os seus donos foram chamados a colaborar na conquista das ilhas
Britânicas. Receberam as bases de apoio às legiões, empenhadas nas campanhas, e
o encargo de lhes fornecer os necessários reabastecimentos. O Valo do Fontanos
deve ter sido aberto nessa altura, e fervilhado de atividade.
Foi
o início do tear de ouro...
Mais
pecuário que agrário, os donos deste empreendimento viraram-se para a lagoa que
os cercava e resolveram drena-la para obterem mais pastagens. Tanto mais que às
muitas construções por esta época, como a ponte do Arquinho e respetiva via para
Valença e Tui, a ponte de Esturãos e da Veiga de Cima, no mesmo rio, exigia
muita carne da exploração.
Nasceu
assim a necessidade de abrir uma grande Vala, para enxugar os terrenos da
lagoa; e as Regadas que faziam parte da Veiga do Rio Lima.
A
grande Vala foi aberta, através da Veiga da Anta, a direito, sem meandros à
força de milhares de braços escravos.
Num
tempo em que não tinham nascido ainda as aldeias, sob uma direção única e um
objetivo indiscutível. E, sobretudo, um mandante poderoso.
O
tempo e o mandante, podem estar ligados à época do imperador Teodósio, que era
espanhol, casado com a princesa Gala Plácida, que bem pode ter sido dona deste
empreendimento.
Não
temos outros documentos. Mas a Vala continua aberta, e a drenar as águas da
lagoa. Na Vala permanece uma ponte de características romanas: a Ponte Nova,
apoiada em dois prolongamentos de calçada romana de mais de cinquenta metros
para cada lado, servindo a antiga estrada para Ponte de Lima, na direção da
ponte mais antiga, e hoje quase enterrada pelo assoreamento do rio Esturãos, na
Veiga de Bertiandos.
Não
temos documentos. Mas a Vala lá está. E as pontes. E os pedaços de calçada, lá
continuam também. Para não falar já da calçada, que atravessa o poço da
Liteira.
Depois
chegaram os Suevos. Mas estes não foram mais que inesperados comensais, na mesa
dos antigos Senhores. A Vila perde a antiga unidade e divide-se em aldeias.
Os
antigos Senhores vão desaparecendo. As populações aprendem a viver sem eles, e
a dispensa-los.
A
exploração essa continua, e ainda se mantém em FONTÃO.
Pode
bem ser, que a nascente do Rebordelo desaguasse nas Regadas e que a abertura
para o Lima, fosse devida a nova vala. Nas Seves, Reboleira e Caldeirão
aparecem novas valas, nitidamente para enxugar terrenos e melhorar pastagens.
Anselmo C. Vieira
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