terça-feira, 2 de abril de 2019

O Rio da Vala



O Rio da Vala
Não sabemos a data certa em que foi fundada a Vila romana em Fontão. Não há registos. Nem admira. Era, apenas, uma vila rústica. Talvez nem tivesse uma casa de moradia para o seu empresário. Mas temos indícios toponímicos que apontam para a família Gala.
O tempo parece apontar para o governo de Júlio César. Este, pela sua ação, criou a melhor oportunidade para a fixação de colonos Romanos, nesta região. As suas vitórias sobre os autóctones e a respetiva escravização dos mesmos, criou as condições oportunas para a exploração em grande escala, da região.
A família Gala acompanhou o Procônsul quando este veio de Roma, como cliente do mesmo. E, sem dúvida, colaborou com ele e ajudou-o na extorsão e roubo das populações locais, reduzindo-as à escravatura.
A extensão da Vila, incluiria todo o território das freguesias a poente da lagoa de Bertiandos, isto é: Fontão, Arcos e Esturãos.
Os limites iriam da lagoa ao Fontanos, a poente, que limitaria com Lanheses.
Esta exploração agropecuária, deve ter tido um início pujante pelos anos 40 A.C., e estaria baseada na força do trabalho escravo.
Pelos anos 40 D.C., com o governo de Cláudio, teve uma grande oportunidade. Estas terras e os seus donos foram chamados a colaborar na conquista das ilhas Britânicas. Receberam as bases de apoio às legiões, empenhadas nas campanhas, e o encargo de lhes fornecer os necessários reabastecimentos. O Valo do Fontanos deve ter sido aberto nessa altura, e fervilhado de atividade.
Foi o início do tear de ouro...
Mais pecuário que agrário, os donos deste empreendimento viraram-se para a lagoa que os cercava e resolveram drena-la para obterem mais pastagens. Tanto mais que às muitas construções por esta época, como a ponte do Arquinho e respetiva via para Valença e Tui, a ponte de Esturãos e da Veiga de Cima, no mesmo rio, exigia muita carne da exploração.
Nasceu assim a necessidade de abrir uma grande Vala, para enxugar os terrenos da lagoa; e as Regadas que faziam parte da Veiga do Rio Lima.
A grande Vala foi aberta, através da Veiga da Anta, a direito, sem meandros à força de milhares de braços escravos.
Num tempo em que não tinham nascido ainda as aldeias, sob uma direção única e um objetivo indiscutível. E, sobretudo, um mandante poderoso.
O tempo e o mandante, podem estar ligados à época do imperador Teodósio, que era espanhol, casado com a princesa Gala Plácida, que bem pode ter sido dona deste empreendimento.
Não temos outros documentos. Mas a Vala continua aberta, e a drenar as águas da lagoa. Na Vala permanece uma ponte de características romanas: a Ponte Nova, apoiada em dois prolongamentos de calçada romana de mais de cinquenta metros para cada lado, servindo a antiga estrada para Ponte de Lima, na direção da ponte mais antiga, e hoje quase enterrada pelo assoreamento do rio Esturãos, na Veiga de Bertiandos.
Não temos documentos. Mas a Vala lá está. E as pontes. E os pedaços de calçada, lá continuam também. Para não falar já da calçada, que atravessa o poço da Liteira.
Depois chegaram os Suevos. Mas estes não foram mais que inesperados comensais, na mesa dos antigos Senhores. A Vila perde a antiga unidade e divide-se em aldeias.
Os antigos Senhores vão desaparecendo. As populações aprendem a viver sem eles, e a dispensa-los.
A exploração essa continua, e ainda se mantém em FONTÃO.
Pode bem ser, que a nascente do Rebordelo desaguasse nas Regadas e que a abertura para o Lima, fosse devida a nova vala. Nas Seves, Reboleira e Caldeirão aparecem novas valas, nitidamente para enxugar terrenos e melhorar pastagens.


Anselmo C. Vieira

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