Enquadramento Histórico e Apreciações
Estes
acontecimentos dão-se num tempo em que a freguesia de Fontão era já uma
entidade jurídica definida, e em que as circunstâncias adversas tinham
desaparecido. Estes tempos viveram-se pelos fins do séc. X, decorrer do
primeiro milénio da nossa Era. Na nossa região, Galiza e Norte de Portugal,
particularmente a zona da serra de Arga, entre os rios Minho e Lima, atuaram os
Normandos, que, entrando pelas Barras destes rios, desembarcaram nas terras
limítrofes e assaltaram sem dó nem piedade, as populações residentes, às quais
levaram destruição e morte. Não havia defesa. Cada um tinha de valer-se a si
mesmo.
Os
Fontanenses devem ter-se abrigado nos bosques do Ameal, ou subido pela encosta
da Silvareira, para o interior da Serra, onde a defesa era fácil e segura; para
só regressarem, quando o perigo passasse.
Pelo
rio acima, os barcos Viquingues e respetivas tripulações de piratas, semeavam o
pânico e o terror. E isso aconteceu, de acordo com o contexto histórico, dos
séculos oitavo ao décimo.
Depois,
os Normandos convertem -se ao Cristianismo, e entendem-se com os Naturais. As
coisas mudam. De terríveis salteadores, tornam-se irmãos na fé.
Continuam
a subir o rio Lima, mas agora como amigos e clientes. Trazem mercadorias.
Compram produtos.
Trazem
o sal de Ovar. Levam a carne.
O
gado, outrora cobiçado pelos piratas, dá agora, lucro aos Fontanenses. Junto ao
Ameal aparece agora o Toural. E, mais abaixo, mas logo a seguir, o Talho. É o
negócio a prosperar.
A
princípio, são somente os Normandos. Mas pelo séc. X, surgem os peregrinos de
S. Tiago. Depois os CRUZADOS e guerreiros do Norte da Europa, que rodeiam a
costa atlântica a caminho da Terra Santa.
São,
também, os guerreiros cristãos das Astúrias e de Leão que se deslocam para sul,
nas suas conquistas.
Nasce
o reino de Portugal. D. Afonso Henriques alicia os CRUZADOS, para a conquista
de Lisboa. E, mais tarde, D. Sancho, para a conquista de Silves.
O
negócio prospera. O Rei reclama os seus direitos e quer impor o fisco. Os
Homens do negócio enfrentam-no, de peito aberto, com a consciência do seu
poder, e exigem a segurança nos caminhos.
Chegam
a um acordo:”Óh rei...manda nas estradas... Que nos campos mandamos nós!”. O
rei compromete-se com a segurança nas estradas. Os seus homens de negócio,
garantem o trabalho.
É,
talvez, nessa altura que nascem as Torres, lugar de vigia sobre o Ameal e o
Toural. E são introduzidos os Serenos, vigilantes da noite, e representantes do
rei e dos seus interesses, junto dos homens de negócio, em Fontão. E tem origem
uma nova família.
E
o tear de ouro, no Valo do Rego do Talho funcionava agora, seguro nas mãos dos
Fontanenses.
Alimentam
o negócio as guerras de conquista no Alentejo. A conquista do Algarve. A
campanha das Navas de Tolosa e do Salado.
Na
conquista de Ceuta, as carnes do Norte alimentam os guerreiros. O Povo
contenta-se com as vísceras. Nas caravelas dos descobrimentos a carne continua
ao serviço da Pátria. Talvez tenha embarcado com D. Sebastião para a atípica
expedição.
Depois,
o portinho morreu. Caiu no esquecimento. O rio deixou de ser podre...O Talho
perdeu o sentido. O Tear virou Lenda.
Há
muito que Viana substituíra o matadouro. Desde o séc. XIV, os barcos não
subiram o rio Lima. O Talho ficou sem serventia. A família dos Serenos ficou
sem trabalho. Mas os Fontanenses ficaram agarrados à criação de gado, até ao
dia de hoje.
Anselmo C. Vieira
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