terça-feira, 2 de abril de 2019

DISSERTAÇÃO Enquadramento Histórico e Apreciações

Afonso Henriques por Soares dos Reis

DISSERTAÇÃO
Enquadramento Histórico e Apreciações

Estes acontecimentos dão-se num tempo em que a freguesia de Fontão era já uma entidade jurídica definida, e em que as circunstâncias adversas tinham desaparecido. Estes tempos viveram-se pelos fins do séc. X, decorrer do primeiro milénio da nossa Era. Na nossa região, Galiza e Norte de Portugal, particularmente a zona da serra de Arga, entre os rios Minho e Lima, atuaram os Normandos, que, entrando pelas Barras destes rios, desembarcaram nas terras limítrofes e assaltaram sem dó nem piedade, as populações residentes, às quais levaram destruição e morte. Não havia defesa. Cada um tinha de valer-se a si mesmo.
Os Fontanenses devem ter-se abrigado nos bosques do Ameal, ou subido pela encosta da Silvareira, para o interior da Serra, onde a defesa era fácil e segura; para só regressarem, quando o perigo passasse.
Pelo rio acima, os barcos Viquingues e respetivas tripulações de piratas, semeavam o pânico e o terror. E isso aconteceu, de acordo com o contexto histórico, dos séculos oitavo ao décimo.
Depois, os Normandos convertem -se ao Cristianismo, e entendem-se com os Naturais. As coisas mudam. De terríveis salteadores, tornam-se irmãos na fé.
Continuam a subir o rio Lima, mas agora como amigos e clientes. Trazem mercadorias. Compram produtos.
Trazem o sal de Ovar. Levam a carne.
O gado, outrora cobiçado pelos piratas, dá agora, lucro aos Fontanenses. Junto ao Ameal aparece agora o Toural. E, mais abaixo, mas logo a seguir, o Talho. É o negócio a prosperar.
A princípio, são somente os Normandos. Mas pelo séc. X, surgem os peregrinos de S. Tiago. Depois os CRUZADOS e guerreiros do Norte da Europa, que rodeiam a costa atlântica a caminho da Terra Santa.
São, também, os guerreiros cristãos das Astúrias e de Leão que se deslocam para sul, nas suas conquistas.
Nasce o reino de Portugal. D. Afonso Henriques alicia os CRUZADOS, para a conquista de Lisboa. E, mais tarde, D. Sancho, para a conquista de Silves.
O negócio prospera. O Rei reclama os seus direitos e quer impor o fisco. Os Homens do negócio enfrentam-no, de peito aberto, com a consciência do seu poder, e exigem a segurança nos caminhos.
Chegam a um acordo:”Óh rei...manda nas estradas... Que nos campos mandamos nós!”. O rei compromete-se com a segurança nas estradas. Os seus homens de negócio, garantem o trabalho.
É, talvez, nessa altura que nascem as Torres, lugar de vigia sobre o Ameal e o Toural. E são introduzidos os Serenos, vigilantes da noite, e representantes do rei e dos seus interesses, junto dos homens de negócio, em Fontão. E tem origem uma nova família.
E o tear de ouro, no Valo do Rego do Talho funcionava agora, seguro nas mãos dos Fontanenses.
Alimentam o negócio as guerras de conquista no Alentejo. A conquista do Algarve. A campanha das Navas de Tolosa e do Salado.
Na conquista de Ceuta, as carnes do Norte alimentam os guerreiros. O Povo contenta-se com as vísceras. Nas caravelas dos descobrimentos a carne continua ao serviço da Pátria. Talvez tenha embarcado com D. Sebastião para a atípica expedição.
Depois, o portinho morreu. Caiu no esquecimento. O rio deixou de ser podre...O Talho perdeu o sentido. O Tear virou Lenda.
Há muito que Viana substituíra o matadouro. Desde o séc. XIV, os barcos não subiram o rio Lima. O Talho ficou sem serventia. A família dos Serenos ficou sem trabalho. Mas os Fontanenses ficaram agarrados à criação de gado, até ao dia de hoje.


Anselmo C. Vieira

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