Acácio Lino: A 1ª tarde portuguesa
NO TEMPO DE D. AFONSO HENRIQUES
No
séc. XII, todo ele preenchido pelo governo de D.na Teresa e por D. Afonso
Henriques, a Vila tinha deixado de existir.
Havia
em seu lugar três aldeias, as de hoje.
Em
Fontão continuavam as antigas atividades, desempenhadas agora por Homens Livres
da terra.
As
condições políticas e sociais favoreceram sobretudo os negócios pecuários.
Os
muçulmanos recuaram para o Sul. Os Normandos passaram as suas razias, e
dedicaram-se ao comércio.
Os
Cruzados e peregrinos viajaram cada vez mais a caminho de S. Tiago e da
Palestina.
Intensifica-se
o comércio das carnes, dos curtumes, do sal e do vinho. As vísceras dos animais
alimentam a indústria da Dobrada ou dos Callos em todo o Norte de Espanha,
desde a Galiza a Navarra.
Nascem
assim, os “tripeiros”, comedores de tripas.
Entretanto
o rio Podre corre para o Lima, cada vez mais Podre. E a vida, para os
Fontanenses, cada vez mais próspera.
Deve
ter sido então, que a aldeia nasceu como figura jurídica de Paróquia. O facto é
que sendo a freguesia mais pequena que todas as freguesias vizinhas, pagava ao
fisco, o dobro de qualquer uma delas.
Quando
D. Afonso Henriques entra em litígio com a Mãe, a agitação nesta região deve
ter sido muito intensa, como já fora nos tempos, dos desentendimentos desta,
com sua Irmã. O vaivém de tropas e de guerreiros era contínuo. E os
comerciantes de carnes da região devem ter beneficiado disso; e os criadores de
gado.
Ao
falecer na Galiza Dona Teresa, o seu filho tentou haver lá, a sua herança. E
certamente procurou, na região de entre Minho e Lima, recursos para estas
empresas guerreiras. Entrou em negócio com os Homens livres da região. Era o
fisco a impor-se.
Os
Homens da terra entram no acordo. Mas, também eles, tem algo a reivindicar: A
segurança nos caminhos. “Senhor, reina
nos caminhos, que nos campos reinamos nós “.
É
que no meio de tantas cavalgadas, os salteadores deviam ser mais que muitos e a
insegurança...
Deve
ser neste contexto que em Fontão aparecem os Serenos que ao mesmo tempo
zelariam pela segurança do povo e pelos interesses do Rei. É interessante, que
em Fontão a família dos Serenos, permanece ainda arreigada no lugar do
Toural...
Nos
reinados seguintes, Séc. XII e pelos XIII a região continua próspera. As
Cruzadas repetem-se e o negócio prospera.
Chega
o reinado de Afonso III. E o séc. XIV. O assoreamento do Lima. A fundação da
cidade de Viana, e do seu porto.
Os
barcos já não sobem o rio. Carregam em Viana. E o gado passa também a ser
abatido nesta cidade.
O
rio Podre vai ficando esquecido, e cada vez menos podre. O tear de ouro deixa
de trabalhar. O Valo perde vida. O lugar do Talho não tem sentido. Fica o
Toural. Mas as Torres já não vigiam nada. Todas estas lembranças se refugiam no
subconsciente do Fontanense. A memória foi-se perdendo. Cristalizou na lenda. A
lenda do “Tear de Ouro”.
As
águas do rio Podre tornaram-se cristalinas. Mas a antiga prosperidade
desapareceu para sempre.
E
o rio passou a chamar-se rio do Talho, sem que ninguém soubesse explicar o
porquê.
24 de Maio de 2013
Anselmo Vieira
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