domingo, 28 de abril de 2019

S. Tiago de Fontans


S. Tiago de Fontans

É o nome mais antigo que se conhece, da freguesia de Fontão. Vem do catálogo das igrejas portuguesas do tempo do rei D. Dinis, na História da Igreja Portuguesa, da autoria de Fortunato de Almeida. Era, pois, o nome pelo qual se denominava a terra de Fontão, pelo menos desde o Séc. XIII.
Mas, pelo dito catálogo, ficamos também a saber que sendo a freguesia pequena, pagava de rendimentos ao fisco mais do que o dobro do que era cobrado a qualquer outra das freguesias da região, mesmo daquelas que eram maiores, tanto em riqueza como em extensão. Pagava mais ou menos o mesmo que as duas paróquias da então recente Vila de Viana. Enquanto as freguesias vizinhas pagavam de rendimentos, entre as cinquenta e as setenta libras, a de Fontão estava taxada em duzentas e sete libras.
Porquê tal diferença? Qual o rendimento que justificava este substancial agravamento? Mais uma vez, faltam os documentos. Estamos num ambiente rústico. Mas, temos alguns indícios. E vamos encontra-los na toponímia da terra: S. Tiago de Fontans. As Fontans, isto é, as Ribeiras.
E uma dessas Ribeiras chama-se Rego do Talho. Talvez se chamasse assim já naquele tempo. As águas do Ribeiro deviam correr com aspeto nauseabundo, como insinua o nome porque era conhecido, e que vem no mapa dos serviços cadastrais: Rio Podre. Sinal que o talho era real e se encontrava por alturas do lugar do Retiro, despejando os seus detritos na Ribeira. Esta Ribeira terminava num “Valo”, fundeadouro ou varadouro de pequenas embarcações, que pelo Rio Lima comunicavam com o mar. Nesse Valo ou fundeadouro colocaram os nossos antepassados o lendário “Tear de Ouro”. Que outro significado pode ter este tear, que não seja o de um negócio produtivo?
Mas, continuemos pesquisando a toponímia.
Para montante do Talho e Rio Podre, e seguindo o Rio Velho, encontramos o lugar do Toural e, mais para cima, as pastagens do Ameal e os campos planos das Neves, regadas pelas águas frescas que descem da Silvareira, indiciando também que gados e pastagens são vigiados desde as elevações do lugar das Torres.
Todos estes topónimos, enquadrados num conjunto ordenado e harmónico, nos sugerem uma
intensa criação de gado; e uma florescente industrialização e futuros negócios de carnes e curtumes.
As peregrinações, o turismo desse tempo a Santiago de Compostela e à Terra Santa ou a Roma; e, mais tarde os Cruzados, que nas terras da Galiza e Norte de Portugal, marcavam o seu ponto de encontro, dinamizaram estes criadores e exploradores de gado. Deste modo, o rendimento do negócio aumentou o volume dos encargos.
D. Afonso Henriques aliou-se a estas gentes e deles beneficiou para o seu projecto. Protegeu-os com os seus “Serenos”, guardas da noite, e talvez funcionários do seu fisco, ao mesmo tempo que lhes garantia segurança nos caminhos e vela nas suas noites.
Assim continuava a ser, nos tempos dos seus filhos e seus netos.
Quando terminou esta prosperidade em Fontão?
Tenho para mim, que no momento em que o Matadouro do Toural se mudou para Viana, o Talho passou a ser uma memória fossilizada e, o Rego do Talho deixou de ser o Rio Podre.
Os Fontanenses de hoje, perderam a memória, mas transportam ainda, no fundo do subconsciente, a nostalgia desses tempos ancestrais em que viveram prósperos e foram auto-afirmativos, rejeitando agora as novas realidades, que não aceitam. E é isto que constitui a sua actual singularidade.

Anselmo Vieira

Arqueólogo

O mais antigo Fontanense


O mais antigo Fontanense

Chamava-se Ansedes ou Ancedes, o habitante mais antigo de Fontão, de quem se conserva memória. Vivia no lugar do Souto. Numa quintinha que, embora retalhada pela estrada nacional do Séc. XIX, ainda se conserva, fraccionada em dois pedaços. Num deles conserva-se uma casa bastante antiga, sem dúvida habitação do Senhor, mas que serviu nos meus tempos de criança como Posto de Ensino da Escola Primária.
Ansedes, possivelmente nobre e guerreiro, movia-se entre as terras de Ponte de Lima e as de Vila do Conde, era contemporâneo de D. Afonso Henriques, e vivia ao seu serviço.
Em que serviria Ansedes o seu Rei?
D. Afonso Henriques, ainda Conde, comprometera-se com as gentes de Ponte de Lima, em troca da fidelidade dos Limianos, na segurança dos Caminhos, ao tempo infestados de bandoleiros, piratas e toda a espécie de ladrões e salteadores.
Ansedes encarregar-se-ia, muito provavelmente, de dar cumprimento a esse compromisso, por encargo do Príncipe.
Mas os documentos apresentam-no, também, como fundador do Mosteiro de Refojos do Lima.
Seria, então, Ansedes, além de guerreiro, também monge? Ou simples Clérigo? Que os havia ao tempo, até sem “Ordens Menores”, e que se dedicavam a serviços hoje desempenhados por funcionários públicos.
Se era monge, pertencia ao Mosteiro de S. João de Arga. E dele se serviu D. Afonso para transferir o dito Mosteiro para lugar mais condizente com os tempos…
Dessa missão, se encarregou também o nosso Ansedes. E deve tê-lo conseguido, a contento de seu amo, embora nem todos os monges concordassem com a dita transferência. Alguns ficaram, pois, dois séculos passados, ainda os Monges de Refojos pagavam “Foros” à casa mãe de S. João D’Arga.
É assim como Ansedes surge como fundador do Mosteiro de Refojos do Lima. Certamente como intermediário do Rei e na sua qualidade de Monge, Clérigo ou alto funcionário.

09/01/2007
Anselmo Vieira

Arqueólogo

Brutónia


Brutónia

Brutónia ou Bretónia. Cidade que existiu no Minho. Marca o início e o fim da romanização do povo galego. Mas terá existido mesmo?
Os historiadores Romanos, que narram os fatos, atribuem-na a Décimo Júnio Bruto, que a terá
fundado, na margem direita do Rio Lima, no local onde realizou a célebre travessia. Mas da cidade chegou a perder-se a memória, até do sítio onde foi edificada. No entanto, parece ter gozado duma certa notoriedade até ao fim do império romano. Parece que chegou a ser cátedra dum Bispo ou Abade que nela se refugiou no início da Idade Média, perseguido pelos Normandos, que o atacaram no seu Mosteiro ou Diocese, por terras de Escócia.
Mas, a cidade tinha de tal modo caído no esquecimento, que nem o sítio do seu assento era lembrado. E a sua memória ficou tão apagada, que só através da memória do tal Bispo ou Abade voltou a ser lembrada.
Quem terá sido o responsável de tal apagão?
No meu entender, o mesmo deu-se por alturas do início da Idade Média, coincidindo com a Idade das Trevas, ou medieval. Mais ou menos, nos tempos das primeiras invasões Viquingues nesta região. E terá sido vítima esta cidade, da fúria selvagem destes piratas que puseram toda a região da Galiza a ferro e fogo. De tal modo atacaram e arrasaram a cidade, que não ficou viva alma e até o seu acento ficou irreconhecível. E hoje os historiadores, não se põem de acordo quanto ao mesmo. Mas ela terá existido durante todo o tempo do Império Romano e terá acompanhado toda a romanização do povo Galego.
Pesquisei todos os nomes das terras da margem direita do Rio Lima e constatei que só Bertiandos tem alguma sonoridade de Brotónia ou Britónia. E concluo que a antiga Britónia incluiria as atuais freguesias de Bertiandos, Sá, Sta. Comba e até Moreira e Estorãos. Se é que não seria o nome primitivo da localidade de Ponte de Lima, sobretudo o lugar de Além da Ponte.
Dizem os filólogos e outros sábios da Linguística que o termo Brutónia, nunca poderia derivar para Bertiandos. Mas é o mais parecido.
Os culpados não deixaram ninguém para testemunhar. Não houve continuidade da memória por falta de continuidade da povoação. Resta um vislumbre, uma vaga reminiscência, uma deturpação. O mais aproximado que se conseguiu de alguém com uma vaga ideia…

Anselmo Vieira

(Arqueólogo)

A minha vida é um Rio


A minha vida é um Rio

Um dia soltei amarras,
Que me prendiam à margem.
E abandonei meus cuidados.
Deixei-me levar na corrente,
E a vogar meu barquinho,
Ultrapassei o Bugio.
E sempre, sempre a sonhar,
Encontrei-me baloiçando,
Nas ondas do Alto Mar.
Enfunei velas ao vento,
Dirigi a proa ao Sul,
Caminho de Gil Eanes…

Perdido no imenso mar
Via baleias respirar…
E os irrequietos Golfinhos,
À minha volta a brincar.
E quais gafanhotos marinhos
Peixes voadores, festivos, pareciam
Minha aventura festejar.
Enquanto o sol tropical
Em suor me fazia arfar…
Vi o perfil das Canárias,
Sonhei, sonho de Afonso IV…
E continuei a rumar.
Caminho do Equador
Caminhos de Diogo Cão,

Que ao Congo me iriam levar,
E do Congo, ver a luta,
Investindo contra o mar,
Até bem dentro do mar!

Cansado já do caminho,
Desejando descansar,
Virei a proa a Nascente.
Fui descansar a Luanda.
Salvador Correia de Sá,
Eu estive na tua Baía…
Bela cidade de Luanda,
Onde estiveste um dia.

E, em Luanda, cheirei África…
O seu cheiro a colmo podre…
Em tempestade de verão.

Abril – 2019

Anselmo Vieira

D. Afonso Henriques e S. Bernardo de Claraval

Afonso Henriques - Soares dos Reis

D. Afonso Henriques e S. Bernardo de Claraval

Discutem, hoje, muitos historiadores, e outros curiosos da história portuguesa, se D. Afonso Henriques era o verdadeiro descendente, filho do Conde D. Henrique e de Dona Teresa, ou um outro qualquer, que se apresentou como tal.
Trata-se de uma questão de legitimidade. E tal questão, não me interessa. Só quero saber, do verdadeiro Afonso Henriques da História, aquele que se apresentou como tal, o “Ducis Portucalensis”, na conferência da Zamora, no ano de mil cento e quarenta e três. Conferência que foi presidida por S. Bernardo de Claraval, representando o Papa de Roma; e por Afonso VII, rei de Leão e Castela, representando os Reinos Cristãos das Espanhas.
Ali, em Zamora, tratou-se de vincular os Reinos Cristãos das Espanhas, aos poderes de Roma, não como a capital do antigo império, mas à autoridade da nova Europa, que emergia, e da qual S. Bento é considerado o fundador, e S. Bernardo quer impulsionar.
S. Bernardo deve ter simpatizado com o “Ducis Portucalensis”, e escolheu-o como um dos esteios e executores das suas ideias, para a cristandade europeia.
De fato, aquele “Ducis”, dominava um território estratégico, ao longo da costa atlântica, que devia ser apoiado, libertado e defendido para assegurar os movimentos das forças cristãs em direcção à Terra Santa.
E resolve transformá-lo em rei.
Para tal, convence aquele homem, na casa dos cinquenta anos, a prescindir da família, mulher e filhos. E nobilita-o, casando-o com Dona Mafalda de Saboia, o que fará dele um “Rei”, aparentando-o com a melhor nobreza europeia.
Afonso VII resmungou. Mas S. Bernardo, expedito, dá-lhe o nome de Imperador de todas as Espanhas. E convence-o de que um imperador, só o será plenamente, se for suserano de reis.
De seguida, dá ao novo “soberano”, um séquito de Conselheiros: Sete Monges Templários e um grupo numeroso de Monges Beneditinos, com os quais fundará o Mosteiro de Alcobaça.
E foi assim, que o Príncipe Português, levado pelas mãos de S. Bernardo, esteve na formação da Europa, que se criava sob a autoridade do Príncipe da Cristandade, O Papa de Roma.
Os Galegos do Norte não aderiram. Depois de muitos titubeios, deixaram-se enredar pela ideia de uma Espanha unida. Não se deram conta que tal ideia, nem espanhola é. Foi imposta aos Espanhóis pela Roma imperial e, depois, pelos Visigodos.
Mas numa, se impôs verdadeiramente. E hoje é, apenas, italiana. O fato é que os mesmos Galegos sofrem “rejeição”, dentro da pátria espanhola; sobretudo em Castela.
Que o diga Rosalia de Castro. Basta ler os seus queixumes. Eu mesmo senti esta rejeição, no meu convívio, por terras de Espanha.
A esta sensação de não pertença, que alguns chamam de independentismo, está sempre à flor da pele, e pronta a dilacerar a pretensa unidade peninsular. Veja-se o país Basco. Veja-se a Catalunha.

14-04-2019
Anselmo Vieira


GORA EUSKADI



GORA EUSKADI

Gora…. Gora…
Gora… Euskadi.
Minha terra de adoção.
Gora…. Gora, Iturrinha…
Meu sinal… de devoção.
Gora… Gora, Euscalduna
Ânsia de libertação…
Gora… Gora, Euskalerria…
Chamamento p’ra União…
Irúnha, tu és Navarra…
Tu não és Aragonesa…
Muito menos Castelhana…
Junta-te aos teus irmãos…
Seus gritos vem de Biscaia…
Ouço gritos… vem de Euskadi…
De Guernica… destroçada…
Álava já escuta, inquieta…
Guipúscoa já se levanta…
Euskadi… todo estremece.
Ergue-te Tolosa orgulhosa.
Redime-te Loiola… redime-te.
Que rei estranho serviste…
Um rei que não era o teu…
Vai a Aránzazu… no “Espinho”

Espiar tua traição…
Não queiras Eiskadi pensar,
Por cabeça de Castela…
Que Castela está na Espanha;
Mas Espanha não é Castela.
Gora… Gora…
Gora Euskadi…
Gora Portugaleuska…

Abril – 2019
Anselmo Vieira

NOTA:

Homenagem ao país e Povo Vasco, onde vivi mais de quatro anos.

quarta-feira, 3 de abril de 2019

O ENCONTRO


O ENCONTRO

Não se sabe o lugar da travessia do Rio Lima. Mas há uma tradição que diz que o general Romano terá tentado uma fundação, do lado direito do rio, no lugar da travessia, e lhe terá dado o nome de Bretónia, em alusão ao seu nome: Bruto. Eu concluo, então, que esse sítio será Bertiandos, nome actual, que por evolução linguística e, ou, fonética, terá derivado de Bretónia para Bertiandos, por evolução cuja explicação, deixo para pessoa mais erudita. Há mesmo outra tradição que fala duma Bretónia, de cuja localização se desconhece, por dela se ter perdido a memória. Mas se presumia na região do Lima, talvez Bertiandos e que teria chegado a ser sede dum bispado, na Alta Idade Média.
Para uma travessia a vau, este lugar seria o mais indicado, pois é este o ponto morto do rio, entre as correntes que vem de montante e as influências das marés que sobem o rio até Fontão.
O ponto de chegada do exército Romano atingiu o Rio Minho em S. Pedro da Torre, e combateu-se, desde a freguesia do Cerdal até ao Rio Minho, em campo aberto, e terreno chão.
A História fala de vitória Romana. Mas eles à vista da cidade de Tui, seu objetivo, não se atreveram a atacar. Desistiram rapidamente e retrocederam, apressados. No campo de Cerdal, vi ainda, as duas mamoas. Restos das das cerimónias fúnebres, feitas aos mortos; e que parecem mais homenagens Celtas, que Romanas. No mesmo terreiro de combate celebra-se, todos os anos, a festa de todos os Santos e uma ermida, que bem pode ser a continuadora de algum santuário pagão.
Mas, os Romanos, ficaram impressionados com as roupas garridas das mulheres galegas, e cores vivas e bem combinadas, na sua variedade. Levaram para Roma os processos da sua produção e confeção. E sabendo que os naturais daqui usavam para fixar as cores vivas, urina humana que juntavam em vasilhas, não se limitaram a copiar os métodos de produção, mas importavam a própria urina, desta região de Espanha, pensando que a sua capacidade de fixar as cores, seria específica sua.
O certo é que os Romanos não mais deixaram os Galegos em paz. Acabaram por submetê-los à sua Lei. E os Galegos, tornados cidadãos Romanos, foram tão fiéis que mesmo quando se tornaram Cristãos, fizeram-no, não por Fé ou pureza de Fé, mas por imitar Roma, como se nota nos Cânones dos Concílios de Braga, mesmo no tempo dos Suevos, quando Roma já não tinha força para impor as suas Leis. E quando os abandonou de todo, no tempo de Genserico. Este, ao mesmo tempo que assaltava Roma, destruiu e arrasou as terras do Norte de Portugal e Galiza, desde a Figueira da Foz, até à Corunha. Foi tão atroz esta destruição, que o modo de viver nestas regiões se mudou completamente, assim como os povoados. Os galegos não souberam nem puderam defender-se.
Ficou a memória traumática de palavras como: Vândalo, Vandalismo, Vandalho, Bandido, Banditismo, etc., com tudo de selvático que esses termos significam.
Parece que os Galegos nunca mais souberam formar um governo próprio, desde que Agripa, General de Augusto, reprimiu os seus parentes das Astúrias, matando todos os homens capazes de remanejar armas. Os Romanos chegaram com Décio Júnio Bruto, no ano de 185 antes de Cristo. Foram dados como ausentes por falta de comparência, no ataque de Genserico. Pior, surpreendidos como aliados do inimigo, no ataque deste aos Suevos, defensores do povo Galego.

20 de maio, de 2014

Anselmo Vieira

FONTÃO

Lethes, tapeçaria de Almada Negreiros

FONTÃO

Freguesia minhota da Ribeira Lima, no concelho de Ponte de Lima. Na margem direita do Rio Lima, entre Lanheses e Bertiandos, e S. Pedro de Arcos. No sopé da serra de Arga. A jusante de Ponte de Lima.
É limitada a Este pelo Rio Estorãos, que corta a veiga na direção do Lima, repartindo a dita veiga, entre Fontão e Bertiandos. Pelo Poente é separada de Lanheses pelo Rio Fontão, à volta do qual a freguesia tem origem e do qual herdou o nome.
São estes dois riachos, ou ribeiros, pequenos cursos de água, cujo caudal engrossa no Inverno e se reduz a um fio de água no Verão, e a que os romanos chamaram fontanas e a que os atuais chamam Rego, Rego da Veiga de Cima e Rego do Talho.
São os dois Marcos da freguesia que a limitam a Nascente, da de Bertiandos; e a Poente, da de Lanheses. Provêm de nascentes naturais, uma dos montes de Estorãos e que atravessa a Lagoa de Bertiandos, corta a Veiga e lança-se no Lima; e o Rego do Talho, que desce do lugar da Silvareira, em S. Pedro de Arcos, entra em Fontão pelas Neves, passa pelo Ameal, Toural, Talho, de que adopta o nome, e morre na embocadura do Valo.
Num dado momento, este Fontanos, teve o nome de Rio Podre. Parece que já na época Suévia se chamava: Podre.
Porquê?
Há, em Fontão um outro Rego, de características muito semelhantes, aos outros cursos de água, referidos; mas que deles se distingue por não ser obra da Natureza. É artificial. E tudo indica ter sido aberto, para drenar as águas da Lagoa, abrindo-lhes caminho para o Rio, com a intenção, de secar o leito da Lagoa e aproveitar os terrenos, libertos da água, na obtenção de pastagens para o gado.
Há outras pequenas nascentes. Como a Fontela, que descia para os Linhares e morria nas Regadas. O rio das Rendas, que brota do Alto da Pena, onde se empoleira o lugar do Carvalhal. E o Rebordelo, com origem na Fonte da Vila, e que passa pelo Portelo, seguindo como os anteriores, para as Regadas, este na Veiga das Sebes. Parece que este último romperia pela Veiga e chegaria ao Rio Lima. Todos morriam nas Regadas, que eram naquele tempo, antes da abertura do Rego da Vala, prolongamento da Lagoa de Bertiandos. Esta atingiria, pelo menos no Inverno, o Rego do Talho.
Esta terra estava, pois, praticamente cercada pelas águas da Lagoa. Não devia ser nada saudável. Nem devia, portanto, ter muitos habitantes, antes da chegada dos Romanos. Talvez só alguns em Estorãos. E pode ser que em território de Lanheses, do outro lado do Rio Fontão, no sítio que parece ter sido, mais tarde, uma Suvidade em frente ao alto de Fontão, do outro lado do Rio.
Era esta terra de Celtas. Da etnia galega, cujo centro era a cidade de Tui. Provavelmente Gróvios e Leuni. Ainda persiste um lugar na aldeia de Parada, chamado Grova. Ocupavam a região entre o Lima e a Ria de Vigo. Exploravam os minerais e criavam gado. Pouco sabemos deles. Só que eram muito bons guerreiros, que tomaram parte na expedição de Aníbal contra os Romanos, e que a sua cavalaria se distinguiu na batalha de Canas. Mas povoações desse tempo nestas terras, quase desconheço.
Foram os romanos que os projetaram para a História, quando o general Décio Júnio Bruto, veio desde as terras de Além
do Tejo, Per Loca Marítima, isto é, pelo litoral.Atravessou o Douro, conquistou as terras dos Brácaros e chegou ao Rio Lima.
Aqui deve ter tido de enfrentar um princípio de insubordinação das suas tropas, que talvez cansadas ou com medo, não queriam avançar mais. Convenceu-os a seguir até Tui. Combateu e venceu os Galegos em Cerdal, no lugar onde ainda hoje se faz a feira de Todos os Santos, e lá se encontram duas mamoas, prováveis túmulos dos soldados mortos no combate. Combateram em S. Pedro da Torre, à vista de Tui. Mas atacar a cidade não se atreveu. Retirou-se rapidamente para o Sul, seguindo à vista do mar. E apressou-se a regressar a Roma, a receber o triunfo, apresentando como desculpa do levantamento das suas tropas, o terror
religioso, que os soldados teriam sentido, de esquecer Roma, se atravessassem o rio, que confundiram com o LETIS.

19 de maio, de 2014.

Anselmo Vieira

terça-feira, 2 de abril de 2019

NO TEMPO DE D. AFONSO HENRIQUES

Acácio Lino: A 1ª tarde portuguesa

NO TEMPO DE D. AFONSO HENRIQUES

No séc. XII, todo ele preenchido pelo governo de D.na Teresa e por D. Afonso Henriques, a Vila tinha deixado de existir.
Havia em seu lugar três aldeias, as de hoje.
Em Fontão continuavam as antigas atividades, desempenhadas agora por Homens Livres da terra.
As condições políticas e sociais favoreceram sobretudo os negócios pecuários.
Os muçulmanos recuaram para o Sul. Os Normandos passaram as suas razias, e dedicaram-se ao comércio.
Os Cruzados e peregrinos viajaram cada vez mais a caminho de S. Tiago e da Palestina.
Intensifica-se o comércio das carnes, dos curtumes, do sal e do vinho. As vísceras dos animais alimentam a indústria da Dobrada ou dos Callos em todo o Norte de Espanha, desde a Galiza a Navarra.
Nascem assim, os “tripeiros”, comedores de tripas.
Entretanto o rio Podre corre para o Lima, cada vez mais Podre. E a vida, para os Fontanenses, cada vez mais próspera.
Deve ter sido então, que a aldeia nasceu como figura jurídica de Paróquia. O facto é que sendo a freguesia mais pequena que todas as freguesias vizinhas, pagava ao fisco, o dobro de qualquer uma delas.
Quando D. Afonso Henriques entra em litígio com a Mãe, a agitação nesta região deve ter sido muito intensa, como já fora nos tempos, dos desentendimentos desta, com sua Irmã. O vaivém de tropas e de guerreiros era contínuo. E os comerciantes de carnes da região devem ter beneficiado disso; e os criadores de gado.
Ao falecer na Galiza Dona Teresa, o seu filho tentou haver lá, a sua herança. E certamente procurou, na região de entre Minho e Lima, recursos para estas empresas guerreiras. Entrou em negócio com os Homens livres da região. Era o fisco a impor-se.
Os Homens da terra entram no acordo. Mas, também eles, tem algo a reivindicar: A segurança nos caminhos. “Senhor, reina nos caminhos, que nos campos reinamos nós “.
É que no meio de tantas cavalgadas, os salteadores deviam ser mais que muitos e a insegurança...
Deve ser neste contexto que em Fontão aparecem os Serenos que ao mesmo tempo zelariam pela segurança do povo e pelos interesses do Rei. É interessante, que em Fontão a família dos Serenos, permanece ainda arreigada no lugar do Toural...
Nos reinados seguintes, Séc. XII e pelos XIII a região continua próspera. As Cruzadas repetem-se e o negócio prospera.
Chega o reinado de Afonso III. E o séc. XIV. O assoreamento do Lima. A fundação da cidade de Viana, e do seu porto.
Os barcos já não sobem o rio. Carregam em Viana. E o gado passa também a ser abatido nesta cidade.
O rio Podre vai ficando esquecido, e cada vez menos podre. O tear de ouro deixa de trabalhar. O Valo perde vida. O lugar do Talho não tem sentido. Fica o Toural. Mas as Torres já não vigiam nada. Todas estas lembranças se refugiam no subconsciente do Fontanense. A memória foi-se perdendo. Cristalizou na lenda. A lenda do “Tear de Ouro”.
As águas do rio Podre tornaram-se cristalinas. Mas a antiga prosperidade desapareceu para sempre.
E o rio passou a chamar-se rio do Talho, sem que ninguém soubesse explicar o porquê.

24 de Maio de 2013

Anselmo Vieira

O Rio da Vala



O Rio da Vala
Não sabemos a data certa em que foi fundada a Vila romana em Fontão. Não há registos. Nem admira. Era, apenas, uma vila rústica. Talvez nem tivesse uma casa de moradia para o seu empresário. Mas temos indícios toponímicos que apontam para a família Gala.
O tempo parece apontar para o governo de Júlio César. Este, pela sua ação, criou a melhor oportunidade para a fixação de colonos Romanos, nesta região. As suas vitórias sobre os autóctones e a respetiva escravização dos mesmos, criou as condições oportunas para a exploração em grande escala, da região.
A família Gala acompanhou o Procônsul quando este veio de Roma, como cliente do mesmo. E, sem dúvida, colaborou com ele e ajudou-o na extorsão e roubo das populações locais, reduzindo-as à escravatura.
A extensão da Vila, incluiria todo o território das freguesias a poente da lagoa de Bertiandos, isto é: Fontão, Arcos e Esturãos.
Os limites iriam da lagoa ao Fontanos, a poente, que limitaria com Lanheses.
Esta exploração agropecuária, deve ter tido um início pujante pelos anos 40 A.C., e estaria baseada na força do trabalho escravo.
Pelos anos 40 D.C., com o governo de Cláudio, teve uma grande oportunidade. Estas terras e os seus donos foram chamados a colaborar na conquista das ilhas Britânicas. Receberam as bases de apoio às legiões, empenhadas nas campanhas, e o encargo de lhes fornecer os necessários reabastecimentos. O Valo do Fontanos deve ter sido aberto nessa altura, e fervilhado de atividade.
Foi o início do tear de ouro...
Mais pecuário que agrário, os donos deste empreendimento viraram-se para a lagoa que os cercava e resolveram drena-la para obterem mais pastagens. Tanto mais que às muitas construções por esta época, como a ponte do Arquinho e respetiva via para Valença e Tui, a ponte de Esturãos e da Veiga de Cima, no mesmo rio, exigia muita carne da exploração.
Nasceu assim a necessidade de abrir uma grande Vala, para enxugar os terrenos da lagoa; e as Regadas que faziam parte da Veiga do Rio Lima.
A grande Vala foi aberta, através da Veiga da Anta, a direito, sem meandros à força de milhares de braços escravos.
Num tempo em que não tinham nascido ainda as aldeias, sob uma direção única e um objetivo indiscutível. E, sobretudo, um mandante poderoso.
O tempo e o mandante, podem estar ligados à época do imperador Teodósio, que era espanhol, casado com a princesa Gala Plácida, que bem pode ter sido dona deste empreendimento.
Não temos outros documentos. Mas a Vala continua aberta, e a drenar as águas da lagoa. Na Vala permanece uma ponte de características romanas: a Ponte Nova, apoiada em dois prolongamentos de calçada romana de mais de cinquenta metros para cada lado, servindo a antiga estrada para Ponte de Lima, na direção da ponte mais antiga, e hoje quase enterrada pelo assoreamento do rio Esturãos, na Veiga de Bertiandos.
Não temos documentos. Mas a Vala lá está. E as pontes. E os pedaços de calçada, lá continuam também. Para não falar já da calçada, que atravessa o poço da Liteira.
Depois chegaram os Suevos. Mas estes não foram mais que inesperados comensais, na mesa dos antigos Senhores. A Vila perde a antiga unidade e divide-se em aldeias.
Os antigos Senhores vão desaparecendo. As populações aprendem a viver sem eles, e a dispensa-los.
A exploração essa continua, e ainda se mantém em FONTÃO.
Pode bem ser, que a nascente do Rebordelo desaguasse nas Regadas e que a abertura para o Lima, fosse devida a nova vala. Nas Seves, Reboleira e Caldeirão aparecem novas valas, nitidamente para enxugar terrenos e melhorar pastagens.


Anselmo C. Vieira

DISSERTAÇÃO Enquadramento Histórico e Apreciações

Afonso Henriques por Soares dos Reis

DISSERTAÇÃO
Enquadramento Histórico e Apreciações

Estes acontecimentos dão-se num tempo em que a freguesia de Fontão era já uma entidade jurídica definida, e em que as circunstâncias adversas tinham desaparecido. Estes tempos viveram-se pelos fins do séc. X, decorrer do primeiro milénio da nossa Era. Na nossa região, Galiza e Norte de Portugal, particularmente a zona da serra de Arga, entre os rios Minho e Lima, atuaram os Normandos, que, entrando pelas Barras destes rios, desembarcaram nas terras limítrofes e assaltaram sem dó nem piedade, as populações residentes, às quais levaram destruição e morte. Não havia defesa. Cada um tinha de valer-se a si mesmo.
Os Fontanenses devem ter-se abrigado nos bosques do Ameal, ou subido pela encosta da Silvareira, para o interior da Serra, onde a defesa era fácil e segura; para só regressarem, quando o perigo passasse.
Pelo rio acima, os barcos Viquingues e respetivas tripulações de piratas, semeavam o pânico e o terror. E isso aconteceu, de acordo com o contexto histórico, dos séculos oitavo ao décimo.
Depois, os Normandos convertem -se ao Cristianismo, e entendem-se com os Naturais. As coisas mudam. De terríveis salteadores, tornam-se irmãos na fé.
Continuam a subir o rio Lima, mas agora como amigos e clientes. Trazem mercadorias. Compram produtos.
Trazem o sal de Ovar. Levam a carne.
O gado, outrora cobiçado pelos piratas, dá agora, lucro aos Fontanenses. Junto ao Ameal aparece agora o Toural. E, mais abaixo, mas logo a seguir, o Talho. É o negócio a prosperar.
A princípio, são somente os Normandos. Mas pelo séc. X, surgem os peregrinos de S. Tiago. Depois os CRUZADOS e guerreiros do Norte da Europa, que rodeiam a costa atlântica a caminho da Terra Santa.
São, também, os guerreiros cristãos das Astúrias e de Leão que se deslocam para sul, nas suas conquistas.
Nasce o reino de Portugal. D. Afonso Henriques alicia os CRUZADOS, para a conquista de Lisboa. E, mais tarde, D. Sancho, para a conquista de Silves.
O negócio prospera. O Rei reclama os seus direitos e quer impor o fisco. Os Homens do negócio enfrentam-no, de peito aberto, com a consciência do seu poder, e exigem a segurança nos caminhos.
Chegam a um acordo:”Óh rei...manda nas estradas... Que nos campos mandamos nós!”. O rei compromete-se com a segurança nas estradas. Os seus homens de negócio, garantem o trabalho.
É, talvez, nessa altura que nascem as Torres, lugar de vigia sobre o Ameal e o Toural. E são introduzidos os Serenos, vigilantes da noite, e representantes do rei e dos seus interesses, junto dos homens de negócio, em Fontão. E tem origem uma nova família.
E o tear de ouro, no Valo do Rego do Talho funcionava agora, seguro nas mãos dos Fontanenses.
Alimentam o negócio as guerras de conquista no Alentejo. A conquista do Algarve. A campanha das Navas de Tolosa e do Salado.
Na conquista de Ceuta, as carnes do Norte alimentam os guerreiros. O Povo contenta-se com as vísceras. Nas caravelas dos descobrimentos a carne continua ao serviço da Pátria. Talvez tenha embarcado com D. Sebastião para a atípica expedição.
Depois, o portinho morreu. Caiu no esquecimento. O rio deixou de ser podre...O Talho perdeu o sentido. O Tear virou Lenda.
Há muito que Viana substituíra o matadouro. Desde o séc. XIV, os barcos não subiram o rio Lima. O Talho ficou sem serventia. A família dos Serenos ficou sem trabalho. Mas os Fontanenses ficaram agarrados à criação de gado, até ao dia de hoje.


Anselmo C. Vieira

segunda-feira, 1 de abril de 2019

Os Normandos e os seus Sucessores

escultura de Irene Vilar

Os Normandos e os seus Sucessores

Os séc. VIII, IX, X e XI, foram tempos cruciais para a formação da idiossincrasia dos Galegos, e dos Fontanenses em particular. São séculos de instabilidade e anarquia.
Desaparecida a autoridade, desaparece a ordem e a segurança. Há guerras, assaltos, fugas e regressos constantes. Há destruições, ruínas, insegurança e fome.
Desaparecido o poder e autoridade, cada um fica entregue à sua sorte... O medo e a confusão instalam-se.
A iniciativa pertence a cada um, e a sobrevivência também… e à sorte. A vida tornou-se num intervalo entre fugas e regressos. Fugas e regressos tornaram-se constantes e parecia que não teriam fim. Mas os naturais voltavam sempre à sua origem, fiéis ao seu lugar.
Os agressores são os Viquingues ou Normandos. Atacavam as costas Galegas. Penetravam pelos rios Lima, Minho, Vouga, Mondego. Atacaram Tui por várias vezes. Chegam a fazê-lo com duzentos barcos de uma só vez. As populações da Ribeira Lima refugiavam-se na serra de Arga, nos seus rebordos ou nos seus cimos. No interior da serra há pastagens para os gados, durante o tempo que for preciso. As encostas, dificultam os ataques e protegem os fugitivos.
Na ria de Aveiro os Normandos exploram as salinas.
Em Coimbra atacam, cativam, destroem e roubam.
Em Guimarães, os naturais constroem para defesa, o seu castelo.
Na Galiza e no Minho luta contra eles o bispo S. Rosendo. Em Coimbra o rei Afonso II das Astúrias, com S. Rosendo.
Até que por fins do séc. X, entre atacantes e naturais, chega-se a um entendimento. Na Galiza primeiro. Mais tarde com os reis Asturianos também.
Aderindo ao Cristianismo, os Normandos dirigem as suas fúrias guerreiras contra os Muçulmanos apenas. Aliam-se aos Cristãos e apoiam-nos nas suas lutas contra os Mouros. Tomam mesmo a iniciativa nessas lutas. E cometem enormes atrocidades.
Atrás dos Viquingues e seguindo-lhes os passos, aparecem os Saxões, os Francos, os Ingleses e Holandeses. Em apoio aos Cristãos Peninsulares, praticam ferozes razias e cruéis matanças em terras Muçulmanas.
Os reis de Leão acolhem-nos, confiam-lhes a defesa das suas fronteiras e dão-lhes a direção das suas conquistas.
Como consequência, surge entre os espanhóis, o complexo perante o estrangeiro: Este é sempre melhor, mais forte e mais competente... Basta que o soldado seja estrangeiro, para ser bom oficial... diz um refrão castelhano.
D. Raimundo e D. Henrique de Borgonha têm essa origem.
Os nossos primeiros reis seguiram esta política. Lisboa, Silves e outras terras são o exemplo.
E não terá tido aqui início a saga do bacalhau em Portugal? Com as alianças do nosso D. Sancho l com os reis da Noruega e da Dinamarca?

Anselmo Vieira

19 de maio de 2013