Fátima
E
O Positivismo Português
A
história da Filosofia é a história do pensamento humano, pois, todo o Homem
tende a operar segundo a ideia preconcebida, isto é, a concretizar a mesma na
vida prática dos seus atos; do que pode concluir-se que a história civil da
Humanidade é filosofia da mesa, concretizada. Ou, como dizia certo autor: “A
Filosofia em exemplos”.
Por
isso, o conhecimento do modo de pensar de um determinado povo, tempo ou idade, nos
leva a justificar muitas ações, tempo ou idade, que, de outro modo, nos
pareceriam incongruentes ou indecifráveis.
Do
mesmo modo, o conhecimento histórico pode levar-nos ao conhecimento filosófico.
Efetivamente,
é filosofia ou modo de pensar de cada homem, povo ou idade, o princípio das
suas ações e estas o reflexo daquela ou espelho em que se manifesta.
Os
grandes acontecimentos, isto é, os feitos de transcendental importância, não se
realizaram imprevistamente, ou por acaso, senão que foram a concretização de
ideias de pensadores precedentes, já próximos ou remotos.
Quem
não pode ver, por exemplo, na Revolução Francesa, o resultado das ideias
iluministas, tão acentuadas na França do Século XIII? Ou nos sucessos de
Leipzig, a concretização das ideias de Fichte?
Quem
não vê a influência da Filosofia do espírito de Hegel nas duas últimas guerras mundiais?
E não menos na segunda do que na primeira?
E
entre nós, não está patente a perniciosa influência do Liberalismo e do
Positivismo no decorrer agitado, em quase todo o século XIX e primeira parte do
século XX, até 1926, respetivamente?
Mas
detenhamo-nos a considerar os resultados, por certo maléficos, do Positivismo
entre nós. Ele inicia com o não menor inimigo da tradição Católica Portuguesa,
que benemérito das letras pátrias, Teófilo Braga. Discípulo de Conte, trouxe
até nós as ideias do mestre Francês. Mas, o
Positivismo
de Teófilo Braga não foi só Filosofia. Foi, e sobretudo, política. Realmente
ele tentou e conseguiu unir as suas teorias com as doutrinas Republicanas,
identificando o Positivismo com o Republicanismo e identificou este, com o
patriotismo, mercê de comemorações e centenários.
Daí
o seu êxito rotundo no campo prático. Como complemento das suas doutrinas,
Teófilo Braga conseguiu a Implantação da República de que foi o primeiro
Presidente. Teve a ideia e arte, de substituir o sentimento religioso, pelo
sentimento positivista, mercê de congressos e exposições.
Neste
ponto, foi mais lógico que o mestre Gaulês.
Protegido
pela alta sociedade, o Positivismo triunfou entre nós, em todos os campos. E foram
nefastas, as consequências de tal acontecimento.
A
Igreja, separada do Estado, perseguida e quase abafada em suas instituições.
Deste
modo, privados os cidadãos, do laço moral que esta lhes prestava, lançaram-se
na revolta e entregaram-se à rapina.
A
paz não voltou à sociedade Portuguesa. Os governos sucediam-se com as revoltas.
Isto levou, a que um político estrangeiro que esteve entre nós, fizesse um comentário:
“Portugal é um pequeno povo, integrado por grandes desordeiros.”
Era
geral, a ruína e o mal-estar. Muitos dos melhores de nós, buscaram no
estrangeiro, a paz e o sossego, que aqui lhes faltou. A pobreza, a miséria, a
desordem e a bancarrota, eram o nosso património. De fora, não faltava quem
levantasse olhos cobiçosos para as nossas colónias. O velho fidalgo da Europa,
estava em perigo de perder o património. Eis os frutos envenenados do positivismo
de Teófilo.
Foi
então, que se ouviu uma voz na Cova de Iria, em Fátima, na Serra d’Aire:
“Penitência e oração.” Caí em vós. Arrepiai no caminho. Voltai-vos para Deus.
Arrependei-vos dos vossos pecados. Não discutais Deus. E tereis o perdão. E,
com o perdão, voltará a esperança.
“Penitência
e oração.”
Era
a nova filosofia, a nova dialética, a nova sabedoria que apontava à redenção e
à salvação.
E
não faltaram almas bem inclinadas, multidões, rios de gente, que subiram à
Serra D’Aire, a impregnar-se da nova ideologia, da nova sabedoria, que apontava
à Fraternidade e ao Amor, no novo espírito de sacrifício e na aceitação do
dever.
A
aceitação do dever cumprido, da purificação das consciências foi guiando os
fiéis de Fátima à concórdia fraterna e à paz com Deus.
Não
descuidaram as forças da discórdia, um ataque em forma. Mas a nova ideologia
descida de Fátima, espalhou-se pelo país, formou consciências, pacificou as
famílias e abriu os caminhos da paz.
Berço
de paz, à nossa pátria chegaram monarcas desterrados, famílias perseguidas,
crianças vítimas da guerra, em procura de refúgio.
“Penitência
e oração.”
Olhos
voltados para Deus. Ouvir a voz da consciência. Assumir as responsabilidades e
aceitar o sofrimento do dever cumprido.
Eis
a nova ideologia, que trouxe a concórdia e a paz. Eis o milagre português, o
milagre de Fátima.
Escrito
em 1959, no fim do curso de Filosofia.
Agora
retocado, em 28 de setembro, de 2019.
Anselmo Vieira