segunda-feira, 7 de outubro de 2019

Fátima E O Positivismo Português




Fátima
E

O Positivismo Português

A história da Filosofia é a história do pensamento humano, pois, todo o Homem tende a operar segundo a ideia preconcebida, isto é, a concretizar a mesma na vida prática dos seus atos; do que pode concluir-se que a história civil da Humanidade é filosofia da mesa, concretizada. Ou, como dizia certo autor: “A Filosofia em exemplos”.
Por isso, o conhecimento do modo de pensar de um determinado povo, tempo ou idade, nos leva a justificar muitas ações, tempo ou idade, que, de outro modo, nos pareceriam incongruentes ou indecifráveis.
Do mesmo modo, o conhecimento histórico pode levar-nos ao conhecimento filosófico.
Efetivamente, é filosofia ou modo de pensar de cada homem, povo ou idade, o princípio das suas ações e estas o reflexo daquela ou espelho em que se manifesta.
Os grandes acontecimentos, isto é, os feitos de transcendental importância, não se realizaram imprevistamente, ou por acaso, senão que foram a concretização de ideias de pensadores precedentes, já próximos ou remotos.
Quem não pode ver, por exemplo, na Revolução Francesa, o resultado das ideias iluministas, tão acentuadas na França do Século XIII? Ou nos sucessos de Leipzig, a concretização das ideias de Fichte?
Quem não vê a influência da Filosofia do espírito de Hegel nas duas últimas guerras mundiais? E não menos na segunda do que na primeira?
E entre nós, não está patente a perniciosa influência do Liberalismo e do Positivismo no decorrer agitado, em quase todo o século XIX e primeira parte do século XX, até 1926, respetivamente?
Mas detenhamo-nos a considerar os resultados, por certo maléficos, do Positivismo entre nós. Ele inicia com o não menor inimigo da tradição Católica Portuguesa, que benemérito das letras pátrias, Teófilo Braga. Discípulo de Conte, trouxe até nós as ideias do mestre Francês. Mas, o
Positivismo de Teófilo Braga não foi só Filosofia. Foi, e sobretudo, política. Realmente ele tentou e conseguiu unir as suas teorias com as doutrinas Republicanas, identificando o Positivismo com o Republicanismo e identificou este, com o patriotismo, mercê de comemorações e centenários.
Daí o seu êxito rotundo no campo prático. Como complemento das suas doutrinas, Teófilo Braga conseguiu a Implantação da República de que foi o primeiro Presidente. Teve a ideia e arte, de substituir o sentimento religioso, pelo sentimento positivista, mercê de congressos e exposições.
Neste ponto, foi mais lógico que o mestre Gaulês.
Protegido pela alta sociedade, o Positivismo triunfou entre nós, em todos os campos. E foram nefastas, as consequências de tal acontecimento.
A Igreja, separada do Estado, perseguida e quase abafada em suas instituições.

Deste modo, privados os cidadãos, do laço moral que esta lhes prestava, lançaram-se na revolta e entregaram-se à rapina.
A paz não voltou à sociedade Portuguesa. Os governos sucediam-se com as revoltas. Isto levou, a que um político estrangeiro que esteve entre nós, fizesse um comentário: “Portugal é um pequeno povo, integrado por grandes desordeiros.”
Era geral, a ruína e o mal-estar. Muitos dos melhores de nós, buscaram no estrangeiro, a paz e o sossego, que aqui lhes faltou. A pobreza, a miséria, a desordem e a bancarrota, eram o nosso património. De fora, não faltava quem levantasse olhos cobiçosos para as nossas colónias. O velho fidalgo da Europa, estava em perigo de perder o património. Eis os frutos envenenados do positivismo de Teófilo.
Foi então, que se ouviu uma voz na Cova de Iria, em Fátima, na Serra d’Aire: “Penitência e oração.” Caí em vós. Arrepiai no caminho. Voltai-vos para Deus. Arrependei-vos dos vossos pecados. Não discutais Deus. E tereis o perdão. E, com o perdão, voltará a esperança.
“Penitência e oração.”
Era a nova filosofia, a nova dialética, a nova sabedoria que apontava à redenção e à salvação.
E não faltaram almas bem inclinadas, multidões, rios de gente, que subiram à Serra D’Aire, a impregnar-se da nova ideologia, da nova sabedoria, que apontava à Fraternidade e ao Amor, no novo espírito de sacrifício e na aceitação do dever.
A aceitação do dever cumprido, da purificação das consciências foi guiando os fiéis de Fátima à concórdia fraterna e à paz com Deus.
Não descuidaram as forças da discórdia, um ataque em forma. Mas a nova ideologia descida de Fátima, espalhou-se pelo país, formou consciências, pacificou as famílias e abriu os caminhos da paz.
Berço de paz, à nossa pátria chegaram monarcas desterrados, famílias perseguidas, crianças vítimas da guerra, em procura de refúgio.
“Penitência e oração.”
Olhos voltados para Deus. Ouvir a voz da consciência. Assumir as responsabilidades e aceitar o sofrimento do dever cumprido.
Eis a nova ideologia, que trouxe a concórdia e a paz. Eis o milagre português, o milagre de Fátima.

Escrito em 1959, no fim do curso de Filosofia.
Agora retocado, em 28 de setembro, de 2019.


Anselmo Vieira

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