quinta-feira, 3 de outubro de 2019

Como de Ovínia, se chegou a Viana


Como de Ovínia, se chegou a Viana

Do ilustre medievalista Almeida Fernandes, chegou ao meu conhecimento, um dos mais antigos documentos que se referem à terra de Fontão.
Trata-se de um documento do princípio do século X, em que Afonso III, o Grande, Rei das Astúrias, se regozija com a posse do seu novo Feudo; e do êxito dos seus presores, nas terras do Vale do Lima.
O Rei fala com ênfase e entusiasmo, da sua nova posse, e localiza-a no “Velho Vale de Ovínia”. E diz que a sua nova propriedade está limitada, a poente, pelo Rio Podre.
Ora este Rio, é sem dúvida, o Rio Fontão. Ainda hoje limite de terras, num contexto de fronteira entre Fontão e Lanheses, ou circunscrições, entre Ponte de Lima e Viana.
Logo, Fontão, ainda sem identidade própria e sem autonomia, estava integrado nesse Feudo. E o mesmo, integraria os antigos domínios de Bretónia.
Mas de onde vem ao vale, o nome de Ovínia? De ovelhas? Criação de Ovelhas? Ou algum centro administrativo que, sobre o mesmo reivindicasse senhorio ou domínio?
O Rei não o refere. Mas alude à sua frescura e amenidade dizendo que, pelo mesmo correm as
fontes: “Fontans”, ribeiras.
Pesquisei entre os eruditos a origem de Ovínia. Se teria sido alguma cidade. Ninguém mo soube dizer. Fui à internet. Respondeu-me que, de Ovínia, nada consta.
Recorri às minhas reminiscências, antigas lembranças de velhos mestres escutados na minha adolescência. Parece-me ouvir ecos muito diluídos de uma esquecida Ovínia, lá para os lados de Viana. Mas de concreto, nada.
Terá existido uma Ovínia que dominava o Vale do Lima?
Ou seria toda essa região que assim se chamava?
E que relação guardaria o topónimo com a criação de ovelhas?
A região é famosa pela criação de gado bovino, mas o traje típico de terra é, ainda hoje, confecionado com lã. Nos meus tempos de criança, as vestes eram todas de lã ou de linho.
As cores garridas do trajar das mulheres do povo contrastavam com as cores de musgo dos trajes das fidalgas. Mas, a lã das ovelhas é muito gordurosa e de difícil higiene. O uso de urina humana para curtir a roupa e fixar as cores garridas, pode ter sido responsável pela terrível doença da lepra.
Talvez, também por isso, os povos da Palestina, que eram pastores, sofriam desse mal. Na nossa terra, a mesma fazia muitas vítimas. Tanto que os meus professores, espanhóis, me fizeram notar que, por cada três leprosos que havia em Espanha, havia cinquenta em Portugal. Nesta proporção.
Mas voltemos à minha cidade de Ovínia. No alto de Santa Luzia, existem as ruínas de uma antiga cidade cuja memória se perdeu. Desconhece-se-lhe o nome, o tempo em que foi abandonada e porquê.
Vítima da pirataria a que estava exposta, para mim penso mais que foi vítima do vândalo Gêncerico, quando enviou para os Suevos, cem mil guerreiros, ao mesmo tempo que ele atacava Roma. Diz a fama, que entre a Figueira da Foz e a Corunha, não ficou uma ladeia de pé.
Bem pode ser que, a cidade de Ovínia, seja a que jaz no alto de Santa Luzia e que, os seus últimos habitantes, tenham fugido para a escarpa voltada ao mar, de difícil acesso, fazendo assim, nascer um novo povoado escondido, hoje conhecido pelo nome de Areosa. Esse povoado terá dado, na Idade Média, origem a uma paróquia chamada Terra da Vinha, nome que, por qualquer fenómeno linguístico que não sei explicar, terá perdido a primeira sílaba da palavra “Ovínia”, o “O” caiu, e tornou-se artigo, ficando “Vínia”. Por um fenómeno de Onomatopeia, de “Vínia” deu “Vinha”, termo incongruente que o terreno da encosta não justifica. A paróquia da Vinha, já era conhecida no tempo da monarquia Asturiana.
Foi essa paróquia que o nosso D. Afonso III utilizou para fundar a sua “Vila da Vinha”. Mais tarde Viana.
Vinha não tinha sentido, vingou Viana da Foz do Lima, muito mais apropriado porque Viana significa, muito simplesmente: estrada fluvial. “Via”: estrada e, “Ana”: rio.
O rio era, ainda no meu tempo, a estrada principal na região. O movimento de embarcações era intenso desde a foz até ao lugar do Carregadouro, perto de Ponte da Barca e Arcos de Valdevez. Este movimento dava vida ao Cais Novo, em Darque.
A estrada Nacional era ainda recente e as Vias Romanas não passavam então, de velhos caminhos rurais.
A verdadeira estrada era o Rio.
Termino perguntando: Será que Ovínia se refere a criadores de ovelhas? Ou às ruínas de Santa
Luzia?

26-09-2019

Anselmo Vieira

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