Como de Ovínia, se chegou a Viana
Do ilustre medievalista Almeida Fernandes, chegou
ao meu conhecimento, um dos mais antigos documentos que se referem à terra de
Fontão.
Trata-se de um documento do princípio do século X,
em que Afonso III, o Grande, Rei das Astúrias, se regozija com a posse do seu
novo Feudo; e do êxito dos seus presores, nas terras do Vale do Lima.
O Rei fala com ênfase e entusiasmo, da sua nova
posse, e localiza-a no “Velho Vale de Ovínia”. E diz que a sua nova propriedade
está limitada, a poente, pelo Rio Podre.
Ora este Rio, é sem dúvida, o Rio Fontão. Ainda
hoje limite de terras, num contexto de fronteira entre Fontão e Lanheses, ou
circunscrições, entre Ponte de Lima e Viana.
Logo, Fontão, ainda sem identidade própria e sem
autonomia, estava integrado nesse Feudo. E o mesmo, integraria os antigos
domínios de Bretónia.
Mas de onde vem ao vale, o nome de Ovínia? De
ovelhas? Criação de Ovelhas? Ou algum centro administrativo que, sobre o mesmo
reivindicasse senhorio ou domínio?
O Rei não o refere. Mas alude à sua frescura e
amenidade dizendo que, pelo mesmo correm as
fontes: “Fontans”, ribeiras.
Pesquisei entre os eruditos a origem de Ovínia. Se
teria sido alguma cidade. Ninguém mo soube dizer. Fui à internet. Respondeu-me
que, de Ovínia, nada consta.
Recorri às minhas reminiscências, antigas
lembranças de velhos mestres escutados na minha adolescência. Parece-me ouvir
ecos muito diluídos de uma esquecida Ovínia, lá para os lados de Viana. Mas de
concreto, nada.
Terá existido uma Ovínia que dominava o Vale do
Lima?
Ou seria toda essa região que assim se chamava?
E que relação guardaria o topónimo com a criação de
ovelhas?
A região é famosa pela criação de gado bovino, mas
o traje típico de terra é, ainda hoje, confecionado com lã. Nos meus tempos de
criança, as vestes eram todas de lã ou de linho.
As cores garridas do trajar das mulheres do povo
contrastavam com as cores de musgo dos trajes das fidalgas. Mas, a lã das
ovelhas é muito gordurosa e de difícil higiene. O uso de urina humana para
curtir a roupa e fixar as cores garridas, pode ter sido responsável pela
terrível doença da lepra.
Talvez, também por isso, os povos da Palestina, que
eram pastores, sofriam desse mal. Na nossa terra, a mesma fazia muitas vítimas.
Tanto que os meus professores, espanhóis, me fizeram notar que, por cada três
leprosos que havia em Espanha, havia cinquenta em Portugal. Nesta proporção.
Mas voltemos à minha cidade de Ovínia. No alto de
Santa Luzia, existem as ruínas de uma antiga cidade cuja memória se perdeu.
Desconhece-se-lhe o nome, o tempo em que foi abandonada e porquê.
Vítima da pirataria a que estava exposta, para mim
penso mais que foi vítima do vândalo Gêncerico, quando enviou para os Suevos,
cem mil guerreiros, ao mesmo tempo que ele atacava Roma. Diz a fama, que entre
a Figueira da Foz e a Corunha, não ficou uma ladeia de pé.
Bem pode ser que, a cidade de Ovínia, seja a que
jaz no alto de Santa Luzia e que, os seus últimos habitantes, tenham fugido
para a escarpa voltada ao mar, de difícil acesso, fazendo assim, nascer um novo
povoado escondido, hoje conhecido pelo nome de Areosa. Esse povoado terá dado,
na Idade Média, origem a uma paróquia chamada Terra da Vinha, nome que, por
qualquer fenómeno linguístico que não sei explicar, terá perdido a primeira
sílaba da palavra “Ovínia”, o “O” caiu, e tornou-se artigo, ficando “Vínia”.
Por um fenómeno de Onomatopeia, de “Vínia” deu “Vinha”, termo incongruente que
o terreno da encosta não justifica. A paróquia da Vinha, já era conhecida no
tempo da monarquia Asturiana.
Foi essa paróquia que o nosso D. Afonso III
utilizou para fundar a sua “Vila da Vinha”. Mais tarde Viana.
Vinha não tinha sentido, vingou Viana da Foz do
Lima, muito mais apropriado porque Viana significa, muito simplesmente: estrada
fluvial. “Via”: estrada e, “Ana”: rio.
O rio era, ainda no meu tempo, a estrada principal
na região. O movimento de embarcações era intenso desde a foz até ao lugar do
Carregadouro, perto de Ponte da Barca e Arcos de Valdevez. Este movimento dava
vida ao Cais Novo, em Darque.
A estrada Nacional era ainda recente e as Vias
Romanas não passavam então, de velhos caminhos rurais.
A verdadeira estrada era o Rio.
Termino perguntando: Será que Ovínia se refere a
criadores de ovelhas? Ou às ruínas de Santa
Luzia?
26-09-2019
Anselmo Vieira
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