sábado, 29 de junho de 2019

Os desocupados


Charles Chaplin, in "Tempos Modernos"

Os desocupados

Li algures, na vida do imperador Nero, que em certa ocasião se lhe apresentou um inventor, a pedir-lhe o patrocínio, de certa máquina que tinha inventado. E argumentava que era uma máquina tão importante pela sua eficiência, que produzia o trabalho de cerca de quinhentos operários. Não recordo que máquina fosse. Mas parece-me, que servia nos trabalhos agrícolas, não sei se para arar a terra, se para ceifar as searas.
O imperador terá pensado uns tempos; e, após a reflexão negou o subsídio.
Estranhou-lho o proponente, e disse-lhe:
- Então negas ajuda para uma máquina que te pode vir a trazer tanta riqueza, poupando-te os gastos, de tantos assalariados?...
Ao que o imperador terá retorquido:
- E que farei a vinte e cinco milhões de escravos que há no império?
Hoje em dia, os inventos sucedem-se em catadupa; os robots, os drones e outras máquinas que tais, qualquer dia unem aos nossos ouvidos como moscas, até como elas, nos incomodarem.
Substituem o trabalho humano e não produzem riqueza, mas desocupados. Incomoda-me a insensibilidade cruel com que qualquer “borra botas”, ou idiota inventa, sem pensar nos infelizes que caem na condição de desocupados e sem hipótese alguma, de autorrealização.

Maio, 2019

Anselmo Vieira

Sem comentários:

Enviar um comentário