No
noticiário de ontem, 26 de junho de 2019, transmitiram uma notícia afirmando
que “Alunos de famílias mais pobres e com
menos estudos não conseguem entrar nos cursos com notas mais altas”.
Lembrei-me então, de um artigo que redigi em 2010, mas que mantive até hoje como
inédito.
A querela da Avaliação
Terminou
a querela da avaliação…
Os
professores saíram derrotados.
O
governo de José Sócrates, a pretexto duma hipotética avaliação, tirou-lhes o
pão da boca e conseguiu um apreciável arejamento das Finanças Públicas. Afinal,
era isso que pretendia; e os seus apoiantes já nem o dissimulam.
Mas
não foi esse o fim dos males. Bem pior foi a precarização da Carreira Docente.
Fez-se
um acordo. Os políticos, de todos os partidos, não escondem a sua satisfação e esfregam
as mãos de contentes… Para compensar lançam o engodo do topo da carreira que
todos poderão atingir… Consolo para tantos…
Os
professores foram enganados, se não, atraiçoados pelos que lhes prometiam
apoios a troco de filiação ou de votos. Agora jazem deprimidos num silêncio de
torpor…
Venceu
o governo socialista que conseguiu amenizar as dificuldades financeiras.
Venceram
os sindicatos a quem foi deixada, como feudo, a Escola Pública. Ficaram-lhes sujeitos
os professores; e deles dependentes para qualquer iniciativa reivindicativa.
Venceram
os «lobbys» do Ensino Particular.
Perderam
os alunos que doravante ficarão submetidos às contingências das escolas que lhes
tocará frequentar.
Ganharam
os filhos da sorte e do poder, que disporão de escolas preparadas para eles e
às que só eles terão acesso. Os seus lugares, nas elites, estarão assegurados.
Aos outros perguntar-se-á quando se candidatarem a uma colocação: Qual a escola
em que te formaste?...
Os
professores dificilmente poderiam ficar mais fragilizados. Esbulhados dos
salários que lhes davam uma certa dignidade, ficam, o que é pior, privados da
sua efetividade, que dava consistência às suas vidas. Reduzidos à precariedade
efectiva, a troco duma vaga promessa de atingirem o topo da carreira, após
penosa jornada de quarenta anos. Ficam privados da esperança duma vida estável.
Dificilmente
alguma coisa poderia prejudicar mais os professores, que este acordo sindical.
Quanto
às futuras avaliações, terão a seriedade que costumavam ter estas coisas em Portugal…
progredirão alguns mais habilidosos…mais aduladores e mais amigos…
Os
lugares de topo serão dados, como recompensa, aos apoiantes; ou, como paga de serviços
prestados, ao poder de ocasião.
Haverá
lugar para o mérito? Os que ficarem para o ver responderão, quando lá chegarem.
Anselmo Vieira
2010
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