sexta-feira, 28 de junho de 2019

A querela da Avaliação

No noticiário de ontem, 26 de junho de 2019, transmitiram uma notícia afirmando que “Alunos de famílias mais pobres e com menos estudos não conseguem entrar nos cursos com notas mais altas”. Lembrei-me então, de um artigo que redigi em 2010, mas que mantive até hoje como inédito.

A querela da Avaliação

Terminou a querela da avaliação…
Os professores saíram derrotados.
O governo de José Sócrates, a pretexto duma hipotética avaliação, tirou-lhes o pão da boca e conseguiu um apreciável arejamento das Finanças Públicas. Afinal, era isso que pretendia; e os seus apoiantes já nem o dissimulam.
Mas não foi esse o fim dos males. Bem pior foi a precarização da Carreira Docente.
Fez-se um acordo. Os políticos, de todos os partidos, não escondem a sua satisfação e esfregam as mãos de contentes… Para compensar lançam o engodo do topo da carreira que todos poderão atingir… Consolo para tantos…
Os professores foram enganados, se não, atraiçoados pelos que lhes prometiam apoios a troco de filiação ou de votos. Agora jazem deprimidos num silêncio de torpor…
Venceu o governo socialista que conseguiu amenizar as dificuldades financeiras.
Venceram os sindicatos a quem foi deixada, como feudo, a Escola Pública. Ficaram-lhes sujeitos os professores; e deles dependentes para qualquer iniciativa reivindicativa.
Venceram os «lobbys» do Ensino Particular.
Perderam os alunos que doravante ficarão submetidos às contingências das escolas que lhes tocará frequentar.
Ganharam os filhos da sorte e do poder, que disporão de escolas preparadas para eles e às que só eles terão acesso. Os seus lugares, nas elites, estarão assegurados. Aos outros perguntar-se-á quando se candidatarem a uma colocação: Qual a escola em que te formaste?...
Os professores dificilmente poderiam ficar mais fragilizados. Esbulhados dos salários que lhes davam uma certa dignidade, ficam, o que é pior, privados da sua efetividade, que dava consistência às suas vidas. Reduzidos à precariedade efectiva, a troco duma vaga promessa de atingirem o topo da carreira, após penosa jornada de quarenta anos. Ficam privados da esperança duma vida estável.
Dificilmente alguma coisa poderia prejudicar mais os professores, que este acordo sindical.
Quanto às futuras avaliações, terão a seriedade que costumavam ter estas coisas em Portugal… progredirão alguns mais habilidosos…mais aduladores e mais amigos…
Os lugares de topo serão dados, como recompensa, aos apoiantes; ou, como paga de serviços prestados, ao poder de ocasião.

Haverá lugar para o mérito? Os que ficarem para o ver responderão, quando lá chegarem.

Anselmo Vieira

2010

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