Azenhas
no Rio Coura
Por
um destes afazeres da vida, que por vezes nos batem à porta, aconteceu-me
receber em casa, um aviso das finanças de Paredes de Coura, notificando-me para
o pagamento da contribuição, por um, prédio na freguesia de Bico.
Estou
com sorte, pensei. Possuo um prédio em Bico e nem o sabia. Apresentei-me no
registo de finanças, para que me indicassem qual o prédio e a sua localização.
Para
minha surpresa, era verdade!
Fizeram-me
ver que a minha esposa é comproprietária de um moinho de água, azenha, na
margem direita do rio Coura, uns duzentos metros a jusante da ponte dos
Cavaleiros, Freguesia de Bico.
Tratei
logo de visitar a tal nova fortuna, que sem contar, me vinha cair em posse.
Bem,
a azenha lá se encontra em completo estado de abandono e degradação,
empoleirada num penedo mais saliente e penosamente agarrada à ladeira da
margem, numa última tentativa de fugir às águas
tumultuosas,
que a investem por todos os lados. É este o prédio, que sem contar, me veio
cair às mãos.
Pus-me
a contemplar em volta, e confesso que fiquei encantado pelo sítio. Do lado
oposto do rio, mais três ou quatro moinhos, um deles ainda a funcionar, faziam
companhia ao que me coubera em sorte.
Igualmente
apoiados na granítica penedia, por entre a qual bramem as águas do Coura,
saltitantes, de cascata.
Nas
margens um maciço de aveleiras, formando renques que delimitam coutadas. As
águas rumorejantes ouvem-se à distância e juntam a sua frescura à da sombra de
Carvalhos e Lodeiros que
igualmente
se banham, nas águas tumultuosas.
As
redondezas, ermas, tem aspeto fresco e acolhedor. Convidando à contemplação,
num sossego agradável e delicioso.
A
contrastar com a simplicidade rústica dos moinhos, e a beleza selvagem do
Coura, a montante das azenhas, rompe aqueles ermos, um caminho milenar e, nele,
a famosa ponte dos Cavaleiros, obra de engenharia Romana, de um só arco em
volta perfeita, encavalitado em ciclópicos penedos de granito. O arco construído
com pedras primorosamente talhadas, de beleza severa, mas nobre e calma, dá
apoio a uma calçada bem lançada sobre o mesmo, permitindo-lhe numa passada
clássica e elegante, vencer a torrente, indiferente à bruteza dos elementos.
Ao
lado da ponte, umas alminhas modestas, adornadas com flores artificiais,
tranquilizam o viajante que se aventura por aqueles páramos sombrios e
rumorosos.
Mais
acima, para o sul, a remendar uma praia, o poço do Trogalho, que antes
alimentou de água, as azenhas, recebe agora os garotos das redondezas, que no
verão ali tomam banho, e alguns aprendem a nadar.
E
agora pergunto: Como é que o turismo de Coura ainda não reparou neste conjunto
maravilhoso e o deixa ao abandono?
Atenção,
Pelouro da Cultura!
Anselmo Vieira
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