sexta-feira, 28 de junho de 2019

Azenhas no Rio Coura


Azenhas no Rio Coura

Por um destes afazeres da vida, que por vezes nos batem à porta, aconteceu-me receber em casa, um aviso das finanças de Paredes de Coura, notificando-me para o pagamento da contribuição, por um, prédio na freguesia de Bico.
Estou com sorte, pensei. Possuo um prédio em Bico e nem o sabia. Apresentei-me no registo de finanças, para que me indicassem qual o prédio e a sua localização.
Para minha surpresa, era verdade!
Fizeram-me ver que a minha esposa é comproprietária de um moinho de água, azenha, na margem direita do rio Coura, uns duzentos metros a jusante da ponte dos Cavaleiros, Freguesia de Bico.
Tratei logo de visitar a tal nova fortuna, que sem contar, me vinha cair em posse.
Bem, a azenha lá se encontra em completo estado de abandono e degradação, empoleirada num penedo mais saliente e penosamente agarrada à ladeira da margem, numa última tentativa de fugir às águas
tumultuosas, que a investem por todos os lados. É este o prédio, que sem contar, me veio cair às mãos.
Pus-me a contemplar em volta, e confesso que fiquei encantado pelo sítio. Do lado oposto do rio, mais três ou quatro moinhos, um deles ainda a funcionar, faziam companhia ao que me coubera em sorte.
Igualmente apoiados na granítica penedia, por entre a qual bramem as águas do Coura, saltitantes, de cascata.
Nas margens um maciço de aveleiras, formando renques que delimitam coutadas. As águas rumorejantes ouvem-se à distância e juntam a sua frescura à da sombra de Carvalhos e Lodeiros que
igualmente se banham, nas águas tumultuosas.
As redondezas, ermas, tem aspeto fresco e acolhedor. Convidando à contemplação, num sossego agradável e delicioso.
A contrastar com a simplicidade rústica dos moinhos, e a beleza selvagem do Coura, a montante das azenhas, rompe aqueles ermos, um caminho milenar e, nele, a famosa ponte dos Cavaleiros, obra de engenharia Romana, de um só arco em volta perfeita, encavalitado em ciclópicos penedos de granito. O arco construído com pedras primorosamente talhadas, de beleza severa, mas nobre e calma, dá apoio a uma calçada bem lançada sobre o mesmo, permitindo-lhe numa passada clássica e elegante, vencer a torrente, indiferente à bruteza dos elementos.
Ao lado da ponte, umas alminhas modestas, adornadas com flores artificiais, tranquilizam o viajante que se aventura por aqueles páramos sombrios e rumorosos.
Mais acima, para o sul, a remendar uma praia, o poço do Trogalho, que antes alimentou de água, as azenhas, recebe agora os garotos das redondezas, que no verão ali tomam banho, e alguns aprendem a nadar.
E agora pergunto: Como é que o turismo de Coura ainda não reparou neste conjunto maravilhoso e o deixa ao abandono?
Atenção, Pelouro da Cultura!


Anselmo Vieira

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