acrílico s/tela - Júlio Capela
Ao sabor do tempo que passa
Hoje, desloquei-me para espairecer até Valongo.
É sábado, dia de feira na cidade. Entro no meio de
trânsito intenso. Para mais, a campanha para as Europeias está no auge. Numa
rua são as bandeiras da CDU. Noutra os Bloquistas. Mais até o PPD. E a seguir o
PS. E outro. E outro mais além.
Os mirones e os basbaques param pelos passeios e
abrem as bocas, ou arregalam os olhos para os chamarizes das montras e das
vitrines.
Há o aperto das tendas e dos balcões, de tudo o que
atiça a curiosidade de uns, e a cobiça dos outros.
“É a feira da aldeia”, com tudo o que significa e
implica.
Entro na balbúrdia. A velocidade é lenta porque o
bulício da rua, isso implica.
Qual não é o meu espanto, quando deparo cruzando-se
comigo, um camião carregadinho de garrafas de gás, parado no meio da rua, a
repartir botijas, pelos estabelecimentos das redondezas. Ali mesmo! No centro
da cidade. Aquela hora! Indiferente à multidão!…
Encho-me de indignação. Mas como é possível aquele
perigo, àquela hora. Por entre uma multidão de incautos. Que andam a fazer os
nossos deputados e o nosso Parlamento, que nos deixa assim expostos ao perigo?
Porque é que uma viatura daquelas, com aquele carregamento, se apresenta num
lugar público, àquela hora, naquele dia?
E, se acontecer o pior, um abalroamento por
exemplo, e a consequente explosão? E, se houver muitos mortos? O que vai ser a
choradeira? Quando carpir for inútil, onde encontrar os responsáveis? Para que
servem as campanhas de votos? Para encontrar emprego, sem cuidar de
responsabilidade.
Sinto-me maldisposto. Incomodado, mas impotente… Os
néscios ao Poder…
Sentado num café acalmo, lendo o jornal. E olho
pela vidraça. Mesmo à minha frente segue, penosamente, por entre o trânsito e a
multidão, o camião carregado de botijas, fornecendo os estabelecimentos. Mas,
por Deus, que por hoje, não houve nada…
A quem nos entregaram os nossos votantes.
Maio, 2019
Anselmo Vieira
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