terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

Uma estranha mercadoria



Uma estranha mercadoria
         Há não muito tempo, apareceu nos Arquivos Romanos, um documento da época do Império, que se referia a negócios de importações da Península Ibérica para a cidade de Roma.
         Um desses recibos, ou ordem de pagamento referia-se a uma mercadoria estranha: «urina humana», proveniente de Espanha. Não se indicava de que região.
         Estranharam os investigadores o porquê e o para quê de tal produto comercial. Mas, assinalaram a existência de tal comércio.
         Lembrei-me, então, de um conversa que ouvi na minha infância, entre duas mulheres, na Veiga das Sebes. Dizia uma à outra como confecionava uma “saia à lavradeira”. Dizia que fiava a lã, tingia os fios nas cores que desejava, tecia o pano, confecionava a saia e, por último, embebia-a numa vasilha ou numa pipa cheia de urina humana e deixava-a a curtir entre doze e quinze dias. Não os lembro exactamente.Terminados estes trabalhos a obra estava completa. A saia era lavada e corada. E nunca mais desbotava… nunca mais perdia o brilho da cor. Portanto, a urina que os Romanos importavam era usada como fixador das cores.
         Os Romanos, que tanto admiravam as cores garridas das vestes galegas e as importavam, importavam também os materiais das mesmas ao ponto de terem levado o “fixador” original, as urinas dos naturais da Galiza, talvez por lhes atribuir aptidão específica e melhor qualidade e garantia.

Essas técnicas permaneceram na nossa terra até aos dias de hoje, como o prova a conversa das duas camponesas limianas. Era uma delas a mulher do “caseiro” da Fonte da Vila, o Sr. Luís nos finais da década de quarenta do séc. vinte. E penso que se podem relacionar com o “Traje Minhoto” e os trajes “à Vianeza”.

Anselmo Vieira
(Arqueólogo)

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