Teresa Lourenço
A filha esquecida de Ponte de Lima
Dela
não temos nem palavra. Todos a ignoram. Nem os seus conterrâneos a lembram. Mas
foi Mãe de um grande rei: “O da Boa Memória”.
Foi
Frei António Brandão, historiador alcobacense, quem dela falou primeiro. E
deu-a como natural de Ponte de Lima.
Outros
historiadores portugueses naturalizam-na, de entre Lima e Minho, ou do Alto
Minho.
A
maior parte dizem-na galega.
Os
espanhóis dão-lhe o nome de Teresa Gil de Lourenço. E dizem-na portuguesa.
Acho
que todos falam verdade: natural do Minho, e como tal portuguesa da Galiza
porque, nesse tempo, Ponte de Lima pertencia à diocese de Tuy, na Galiza. E era
a circunscrição eclesiástica, que contava para a naturalidade.
Naqueles
tempos Ponte de Lima vivia uma grande azáfama. D. Afonso IV decidira a
reconstrução da velha ponte romana. E o príncipe D. Pedro assumia a supervisão
das obras. Estava-se, pois, na segunda metade do século catorze.
O
empreendimento era de envergadura, e enchia a Vila de bulício e desafogo
económico.
Neste
ambiente de prosperidade os ventos corriam de feição para uma padaria dentro
das muralhas, no centro da Vila, onde hoje fica a Matriz. Nela se abasteceria o
próprio D. Pedro, que pelos indícios
se terá encontrado com uma menina, filha dos padeiros e que ele achou que seria
uma boa companhia para os seus filhos e de Dona Inês.
Não
sabemos os pormenores. O certo é que a levou consigo, para sua casa, em
Coimbra, onde a menina se terá tornado mulher na companhia de Inês de Castro e
de seus filhos.
Desta
maneira, foi testemunha de Inês, e de sua tragédia. Assistiu às fúrias do
príncipe. Festejou a sua coroação. E continuou a servi-lo, no seu dia a dia
familiar.
Na
sua vida de rei, D. Pedro sofria de alucinações e de insónias. Então, explodia
em arrebates espalhafatosos, rompia pelas ruas de Lisboa e, provocando
alvoroço, reproduzia os arraiais minhotos, a que assistira no tempo da sua
instância limiana, cheios de folia e de vinho.
Outras
vezes, caía em depressão.
Foi,
talvez, num desses momentos que, irrefletidamente talvez, levou para o seu
leito a frágil protegida.
Teresa
ficou grávida e deu à luz um menino, batizado com o nome de João.
Dizem
alguns escritores que, durante as alucinações que tinha quando dormia, D. Pedro
via um dos seus filhos, no futuro, coroado como rei. Mas não o filho de
Constança, nem o João, filho de Inês; mas o João, filho de Teresa. E pressentiu
o perigo… que pretendeu evitar. Inutilmente. Porque, sem o querer, colocou-o no
caminho do destino.
Foi
assim, que quando o menino fez sete anos, afastou-o a ele e a sua mãe, da Corte
e levou-o para longe da Capital, no Alentejo, onde lhes deu casa e estatuto.
Fê-lo
Mestre de Avis.
Longe
dos sítios onde se criavam e formavam os reis; mas em que o destino o preparou
para a “Grande Batalha”, que lhe daria a Coroa.
Quando
já Rei, os habitantes de Ponte de Lima pedem a D. João I, um terreno que ele
possuía, dentro da Vila, onde antes houvera uma padaria, agora desactivada e em
ruínas, “alguns casebres”, para nesse lugar construírem a sua Igreja Matriz. O
Rei deu-lhes esse terreno, pagando assim, antigos favores.
Agora
pergunto eu: Que favores eram esses, que o Rei recebera dos habitantes de Ponte
de Lima? E a que título tinha o Rei D. João I uma propriedade dentro da Vila?
Quanto
à primeira questão temos a resposta na Crónica do Sto. Condestável, quando D.
Nuno se alongou, desde Darque, por terra da Ribeira Lima, até à Vila de Ponte.
Mas
porque seria o Mestre de Avis dono de uma propriedade dentro da Vila, num tempo
em que isto estava vedado a todos os fidalgos, que dentro da mesma não podiam
ter casa, nem propriedade? E nem sequer lá podiam pernoitar?
Com
certeza que só por herança, da mãe, que à data poderia já ter falecido.
Faleceu
Dona Teresa Lourenço, sem nos ter dito nem uma palavra. Sem nada ter decidido.
Tudo
o decidiu D. Pedro… E, possivelmente, contra a sua própria vontade…
Que
decidam agora os filhos de Ponte de Lima.
Anselmo Vieira
(Arqueólogo)
22-03-2016
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