Nasce um povo
S. Rosendo, em Santo Tirso - escultora Irene Vilar
Quando,
nos primeiros anos do séc. X, Afonso III, rei das Astúrias, deu ordem aos seus Presores,
que atravessassem o rio Minho e ocupassem as terras da Serra D’Arga, as gentes
de Fontão devem ter-se sentido aliviadas, integradas que ficavam no fundo real.
Mas,
os sucessores do rei não estiveram à altura.
Os
mouros regressaram. E o novo reino de Leão, teve de contrair-se, novamente, na direção
das Astúrias.
Nas
terras marítimas, os Vikings, moviam-se a seu bel prazer. E a foz dos rios
estavam-lhes escancaradas, sem proteção. Eram eles os senhores das terras.
Foi
o tempo de S. Rosendo governar a Galiza. Mas o santo, que tentou organizar as paróquias,
isto é, freguesias, do Vale do Lima e terras do Neiva, mais propenso à vida
mística, do que à guerra; e, para mais assoberbado, com ataques de rivais
Cristãos, acabou por retirar-se para um dos mosteiros que fundara; não sem
desabafar: -“Quem com ferros mata, com ferros
morre.” O que poderá ter sido um augúrio, ou uma confirmação…
No
entanto, ainda lhe devemos a inauguração da igreja de S. Cláudio, em Nogueira.
Outras
paróquias devem ter sido fruto desse esforço agregador do nosso santo. Mas de
Fontão, não se sabe nada. Talvez estivesse agregada na freguesia de S. Pedro
D’Arcos.
Sabemos
que a sua família se terá entendido com os Vikings, que se acoitavam na ria de Ovar
e por toda a foz do rio Vouga, e que, por isso, terá tido desentendimentos, com
os reis de Leão.
O
certo é que o Séc. X morre com estas terras do norte de Portugal, e sul da
Galiza, a ferro e fogo.
Aproximavam-se
os dias de Almançor e S. Rosendo morre no seu mosteiro, na Galiza.
Sombras
negras pairam no horizonte.
Almançor
O
ano de 997 deve ter sido uma data de terror. Almançor reúne as suas hostes em Viseu.
Os
Condes, amedrontados, desligam-se da obediência ao seu rei. E correm, submissos
à convocação do Caudilho Muçulmano.
Metódico,
este organiza o seu exército. Da sua competência, e a prová-la, restam-nos, ainda,
as admiráveis: “Cavas de Viriato”.
Retirem
de lá a estátua do Lusitano. E deem: “O seu, a seu dono.”
A
cavalgada tem como destino: Santiago de Compostela. O trajeto, passará pela
“Terra de Ninguém” e pela ponte do Rio Lima.
Mais
uma vez, os Fontanenses, esgueiram-se para o interior da serra d’Arga.
Ultrapassada
a ponte do rio Lima, por alturas de Labruja e no sítio do atual santuário do
Senhor do Socorro, o exército de Almançor deparou com dificuldades
intransponíveis. O general teve de fazer alto e contratar sapadores que lhe
abrissem uma picada, para vencer a
montanha.
Paragem que demorou semanas. Imaginemos a aflição dos naturais.
Anos
depois, já entrado o séc. XI, Almançor morre em Sevilha. Mas a tranquilidade
não voltou.
Pouco
depois, é o filho mais velho de Almançor que segue os passos do pai, na vontade
de destruir os reinos Cristãos e por caminhos, mais no interior da Península,
dirige-se novamente, às Astúrias. Estatela-se contra os Picos da Europa, onde
morre com a maior parte do seu exército.
Morre
o mais velho, teima o segundo. Este vem por mar. Não chega às Astúrias, como pretendia.
Os historiadores falam de uma Frota, de mais de trinta mil guerreiros. Uma tempestade,
medonha atira-os contra os rochedos de entre a foz dos rios Lima e do Minho.
Salvaram-se,
apenas, os que o mar atirou por sobre os penhascos para as praias e campos da
orla marítima. E tão desorientados e desprotegidos, que por cá ficaram,
deixando marcas no ADN, das gentes locais.
Deram-se
estes acontecimentos, na primeira década do Séc. XI.
Os
Muçulmanos, cansados, perece adormecerem. Mas a paz não chega. Chegam novamente
os Vikings em oleadas contínuas, e cada vez mais prolongadas, já na década seguinte.
As invasões dos
filhos e netos dos Vikings
É
minha fonte o investigador Hélio Pires, no seu livro: “Os Vikings em Portugal e
na Galiza”.
Ele
fala-nos de como eles chegaram e por cá se movimentaram, num conflito à vontade,
despreocupados, já com umas pinceladas de Cristianismo, que não lhes retiravam
a ferocidade nem a cobiça. Espalhavam-se por toda a região a norte do rio
Vouga. Estendiam-se à Feira. Andaram pelas terras da Maia e por todo o norte
Minhoto e estendiam-se pela Galiza.
Desenvolvem
a caça aos naturais, que fazem cativos. Exploram o negócio do resgate.
Arranjam
mesmo cúmplices entre os Cristãos naturais da terra, e os condes, traficantes
na Feira, em Ovar e Vermoim, na Maia. Escondem os seus barcos, na ria de Ovar,
ou na Pateira de Fermentelos.
Hélio
Pires descreve-os como “os filhos e netos
dos Vikings”, aludindo, sem dúvida, à mistura com os naturais. E eu vejo
neste ambiente, a chegada às terras do Porto, do culto da Nossa Senhora da
Vandoma.
Hélio
Pires deixa entender que estes ataques eram numerosos, e constantes; e não meramente
ocasionais, senão que as suas razias eram prolongadas no tempo e que se sucediam
umas às outras, apoiando-se em lugares estratégicos, onde assentavam as suas bases
e onde se misturavam com as populações locais, criando conivências e
cumplicidades, propícias ao entendimento e à consanguinidade, tanto por via
materna, como paterna.
Estes
dramas, tragédia daqueles tempos, prolongaram-se durante todo o Séc. XI. Ainda no
fim do mesmo século, vemos o Bispo Gelmires, de Santiago de Compostela,
enredado contra os Normandos, e lutando contra os mesmos, já no tempo de D.
Hurraca.
Foi
neste caldo social, que o nosso primeiro Príncipe, foi buscar os seus
colaboradores.
Se
é que o mesmo, fosse ele quem fosse… não era também portador do mesmo sangue…como
os nossos aristocratas, que de Asturianos, tinham pouco.
Para
mim, o Povo Português, gerou-se neste caldo social, vivido neste tempo e nesta região,
que nos fez diferentes de todos os outros povos de Espanha; e que desde então
pouco evoluiu, ficando o mesmo até hoje, e só igual a si próprio.
03-06-2019
Anselmo Vieira